terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ideologia e política no Brasil

O artigo Capitalismo à brasileira, de Fernando Rodrigues, publicado na Folha de São Paulo em 01 de setembro, trata dos vínculos entre os empresários e as campanhas políticas para as eleições de 2010. Faz também uso do termo ideologia, embora com significado ligeiramente diferente daquele utilizado por Marx em seus escritos.


"Empresário sem ideologia há no planeta inteiro. Em períodos eleitorais, fica bem com todos no establishment. Nos EUA, em 2008, essa gente doou para o democrata Barack Obama e para o republicano John McCain.

Mas há limites em sociedades mais sofisticadas. Muitos escolhem ter um lado. Steve Jobs, da Apple, doou US$ 229 mil desde 1982 a políticos e a partidos. Desse total, destinou só US$ 1.000 a um candidato republicano ao Senado. Suas doações são quase exclusivamente para democratas. A Apple, como se sabe, atravessou muito bem os anos da dinastia Bush. Já Bill Gates, da Microsoft, pulveriza recursos meio a meio entre democratas e republicanos -compreensível.

No Brasil, é raro um grande empresário revelar em público sua intenção de doar só a Dilma Rousseff (PT) ou a José Serra (PSDB). Nesta semana, o maior homem de negócios do país, Eike Batista, declarou ter dado dinheiro à petista e ao tucano, de maneira indistinta. Por quê? "Em prol da democracia", respondeu. Em seguida, no programa "Roda Viva", da TV Cultura, deu mais clareza ao seu ato: "Não vão atrasar os meus projetos nos vários Estados por causa de política".

Democracia e negócios não devem ser nem são excludentes. Mas Eike Batista, banqueiros e empreiteiros fazem pouco "em prol da democracia". O dinheiro sai de seus bolsos por uma razão utilitária. O recurso não é oferecido a um candidato porque sua proposta na área da educação é considerada ótima.

Grandes empresários -com as exceções de praxe- costumam reclamar da má qualidade dos políticos. Poucos têm coragem de fazer críticas em público. Pusilânimes, doam a quase todos os candidatos com alguma chance de vitória. Perpetuam um ambiente no qual prosperam sempre. Um capitalismo à brasileira, sem risco. Mais um oximoro produzido pela forma invertebrada de se fazer política no Brasil."

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