quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Recuperação Final

Trabalho de Recuperação

A partir da leitura do texto "Nietzsche, Sim à Vida", disponível no blog e no xerox, encontre e explique os principais conceitos da filosofia nietzscheana.

Use suas próprias palavras para enunciar os conceitos. Não basta copiar o texto de referência.

Trabalho individual. Trabalhos copiados de colegas não serão aceitos.

Os trabalhos devem ser entregues nas aulas de recuperação: terça (8:30 às 9:30) e quarta (8:30 às 9:30). Dúvidas e dificuldades podem ser esclarecidas nos dois dias da recuperação.

(Não serão aceitos trabalhos por email ou pelo site, em função de eventuais problemas com rede, digitação de endereços errados etc).

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Slides aula Freud

Provão Final 2010


No último provão do último ano, resolvi pegar leve e fazer uma prova baseada apenas em psicanálise.

Material de leitura para o provão:

"Freud no Mundo de Sofia" partes 1 a 8;

"Interpetação dos Sonhos";

"Psicanálise do Homem Desbussolado".

Os slides de aula também podem ajudar.

Posts disponíveis no blog nos meses de outubro e novembro.

Visões sobre o aborto

"UMA HISTÓRIA REPUGNANTE"

Trabalho jornalístico fala sobre o último elo de uma cadeia: o destino final dos fetos

por Carlos Heitor Cony

DOIS JORNALISTAS ingleses, Michel Litchfield e Susan Kentish, fizeram há tempos uma ampla pesquisa sobre a indústria do aborto em Londres. O resultado foi um livro que causou espanto e merece, ao menos, uma reflexão de todos os que se preocupam com o assunto. "Babies for Burning" (bebês para queimar, editado pela Serpentine Press, de Londres) não é um ensaio sobre o aborto, mas um trabalho jornalístico sobre o último elo de uma cadeia: o destino final dos fetos que anualmente são retirados de ventres que não desejam ou não podem ter filhos ou "aquele filho".

No caso da Inglaterra, já existe uma lei, o "Abortion Act", de 1967, que permite a interrupção do processo de gravidez pela eliminação mecânica. Os autores souberam, por meio de informações esparsas, que a indústria do aborto, como qualquer indústria moderna, tinha uma linha de subprodutos: a venda de fetos humanos para as fábricas de cosméticos.

Durante a Segunda Guerra, os nazistas também exploraram esse ramo do negócio: matavam judeus aos milhões e aproveitavam a pele e a escassa gordura das vítimas para uma linha de subprodutos que iam de bolsas feitas de pele humana a sabões que lavavam os uniformes do Exército do 3º Reich.

Os ingleses não chegam a ser famosos pelas bolsas que fabricam, mas pelo chá e pelos sabonetes -os melhores do mundo. Um "english soap" sempre me causou pasmo pela maciez, a consistência da espuma, a sensação de limpeza que dá a pele. Não podia suspeitar que tanto requinte pudesse ter -em alguns deles- as proteínas que só se encontram na carne -e carne humana por sinal.

Desde que li o livro, cortei drasticamente dos meus hábitos de higiene o uso dos bons e estimulantes sabonetes ingleses. Aderi ao sabão de coco, honestamente subdesenvolvido, com cheiro de praia do Nordeste e eficácia múltipla, na cozinha ou no toucador. Contam os jornalistas: "Quando nos encontramos em seu consultório, o ginecologista pediu à sua secretária que saísse da sala. Sentou-se ao lado de Litchfield, o que melhorou a gravação, pois o microfone estava dentro da sua maleta.

O médico mostrou uma carta: - "Este é um aviso do Ministério da Saúde", disse, com cara de enfado. "As autoridades obrigam a incineração dos fetos... não devemos vendê-los para nada... nem mesmo para a pesquisa cientifica... Este é o problema...." - "Mas eu sei que o senhor vende fetos para uma fábrica de cosméticos e... e estou interessado em fazer uma oferta... também quero comprá-los para a minha indústria..." - "Eu quero colaborar com o senhor, mas há problemas... Temos de observar a lei...

As pessoas que moram nas vizinhanças estão se queixando do cheiro de carne humana queimada que sai do nosso incinerador. Dizem que cheira como um campo de extermínio nazista durante a guerra." E continuou: "Oficialmente, não sei o que se passa com os fetos. Eles são preparados para serem incinerados e depois desaparecem. Não sei o que acontece com eles. Desaparecem. É tudo." - "Por quanto o senhor está vendendo?" - "Bem, tenho bebês muito grandes. É uma pena jogá-los no incinerador. Há uso melhor para eles. Fazemos muitos abortos tardios, somos especialistas nisso.

Faço abortos que outros médicos não fazem. Fetos de sete meses. A lei estipula que o aborto pode ser feito quando o feto tem até 28 semanas. É o limite legal. Se a mãe está pronta para correr o risco, eu estou pronto para fazer a curetagem. Muitos dos bebês que tiro já estão totalmente formados e vivem um pouco antes de serem mortos.

Houve uma manhã em que havia quatro deles, um ao lado do outro, chorando como desesperados. Era uma pena jogá-los no incinerador porque tinham muita gordura que poderia ser comercializada. Se tivessem sido colocadas numa incubadeira poderiam sobreviver mas isso aqui não é berçário.

Não sou uma pessoa cruel, mas realista. Sou pago para livrar uma mulher de um bebê indesejado e não estaria desempenhando meu oficio se deixasse um bebê viver. E eles vivem, apesar disso, meia hora depois da curetagem. Tenho tido problemas com as enfermeiras, algumas desmaiam nos primeiros dias."

Carlos Heitor Cony - Folha de São Paulo - 11/04/2008

O Aborto

Estamos debatendo o aborto esta semana. O quadrinho aí de cima faz pensar.
Expresse sua opinião. Comente.
Autor: Laerte.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Psicanálise do homem desbussolado

No texto a seguir, o psicanalista brasileiro Jorge Forbes dedica-se a pensar a psicanálise no século XXI, na sua validade e no modo como ela pode operar em uma sociedade radicalmente diferente daquela do tempo de Freud.


Psicanálise do homem desbussolado por Jorge Forbes

Os meios de comunicação eletrônicos trouxeram a rapidez da informação, mas, em contrapartida, pedem ao id do homem atual um tempo diferente de absorção, reflexão e preparo da análise crítica. Nessa nova subjetividade do mundo pós-moderno, o aforismo ganha renovada importância: Tá ligado? Aforismo é uma sentença que em poucas palavras se compreende. Nesta coluna, proponho um formato diferente ao leitor como maneira provocativa de percebermos como estamos sendo confrontados a frases sintéticas. Proponho alguns aforismos sobre as mudanças necessárias a uma Psicanálise do Século XXI. Informações de relevância, porém concisas, o que obriga a cada um por de si, ao completá-las.

  • Freud teve a genialidade de propor uma estrutura capaz de esquadrinhar a experiência humana num mundo pai-orientado: o complexo de Édipo. Um standard freudiano, não um princípio.
  • Foi Jacques Lacan* quem deu o alerta da necessidade de uma psicanálise além do Édipo. Uma psicanálise capaz de acolher um homem cujo problema não está mais nas amarras de seu passado - que justificou a expressão "cura da memória" - mas uma psicanálise para o homem que não sabe o que fazer, nem escolher entre os vários futuros que lhe são possíveis hoje: sem pai, sem norte, sem bússola.
  • Antes, as pessoas se queixavam por não conseguirem atingir os objetivos que perseguiam. Hoje, quase ao avesso, as pessoas se queixam pelas múltiplas possibilidades que se oferecem.
  • Se ontem se analisava para se compreender mais, para ir mais fundo, hoje se dirige o tratamento ao limite do saber: é a necessidade da aposta, na precipitação do tempo.
  • Se ontem se fazia análise para obter uma ação garantida, livre de influências fantasiosas, hoje nenhuma ação é assegurada em um justo saber, toda ação é arriscada e inclui a responsabilidade do sujeito.
  • Se ontem a psicanálise falava em sofrimento psíquico, o que a levou a ser patrocinada por psicólogos que a reduziram a uma das disciplinas de seu currículo, hoje é necessário separá-la do campo da saúde mental.
  • Se ontem nos limitávamos em nossa práxis ao espaço do consultório, hoje haverá psicanálise onde houver um analista, e ele é necessário nos mais diversos locais da experiência humana, muito além das instituições de saúde.
  • Quando a palavra não é mais necessária para intermediar o que se quer, para refletir sobre o que se teme, para inquirir o que se ignora; quando a palavra perde sua função de pacto social, ficamos suscetíveis ao curto-circuito do gozo. O gozo que prescinde da palavra é, em conseqüência, ilógico e desregrado.
  • Hoje estamos no momento do gozo ilógico e desregrado. Alguns exemplos dentre os mais notáveis são as toxicofilias, o fracasso escolar, a delinqüência juvenil, as doenças psicossomáticas. Em cada um desses quadros podemos destacar a impotência da palavra dialogada para alterar o mau estado da pessoa.
  • Miremo-nos nos exemplos dos próprios adolescentes, os que mais sofrem os curtos-circuitos do gozo. Vejamos as soluções que eles encontram para ordenar este gozo caótico. O nome é: "esportes radicais"; no ar: paraglider; na terra: alpinismo; no mar: kite-surf. Todos eles, no limite do dizível, tentativas de captura direta do gozo.
  • O fracasso escolar, a toxicomania, as bulimias, as anorexias, a violência despropositada têm em comum a impossibilidade de serem explicados. Suas causas não são decifráveis por via alguma: da medicina, da psicologia, da pedagogia. Não explicáveis, não exclui que sejam tratáveis.
  • Lacan propôs duas clínicas: uma primeira, a da palavra decifrada, que levantando o recalque, alivia o sintoma e uma segunda, a clínica do gozo, onde a palavra serve para cifrar, tal qual o "piolet" do alpinista que marca a dura pedra do gozo a ser conquistado.
  • Os novos sintomas, por surgirem do curto circuito da palavra, são resistentes ao tratamento pela associação livre. De uma clínica do esclarecimento, vamos para a clínica da conseqüência.
  • A psicanálise no tempo de Freud visava descobrir os impasses, os traumas que impediam uma pessoa a alcançar o futuro que idealizava. O futuro era claro, difícil era seu acesso. A psicanálise no século XXI não é um tratamento do passado, mas, ao contrário, é invenção do futuro.
  • Freud, para seus contemporâneos, escreveu três famosos textos sobre a organização social: "Totem e Tabu", "Futuro de uma Ilusão" e "Mal estar na Civilização". É nossa tarefa, hoje, reinterpretar essa sociedade, não mais à luz do Complexo de Édipo, mas à luz do amor além do pai que exigirá falarmos da responsabilidade de cada um ante sua escolha.
  • Se antes, o objetivo de uma análise, com Freud, era o de se conhecer melhor, hoje, com Lacan, o que importa é retificar a posição da pessoa em relação ao radical desconhecimento do Real, do "que não tem nome nem nunca terá", levando-a a inventar um futuro e a sustentar esta invenção.
*Jacques Lacan (1901-1981), psicanalista francês que propôs atualizar a psicanálise nos anos 1950 e discutiu a influência paterna num mundo em transformação.

domingo, 24 de outubro de 2010

Interpretação dos Sonhos


O texto a seguir é uma breve explicação psicanalítica dos sonhos.

"Não é o estudo das divagações, quando o doente se sujeita à regras psicanalíticas, o único

recurso técnico para sondagem do inconsciente. Ao mesmo escopo servem dois outros processos:

a interpretação de sonhos e o estudo dos lapsos e atos casuais. (...)

A interpretação de sonhos é na realidade a estrada real para o conhecimento do inconsciente, a base mais segura da

psicanálise. É campo onde cada trabalhador pode por si mesmo chegar a adquirir convicção própria, como atingir

maiores aperfeiçoamentos. Quando me perguntam como pode uma pessoa fazer-se psicanalista, respondo que é

pelo estudo dos próprios sonhos. (...).

Não se esqueçam de que se nossas elaborações oníricas noturnas mostram de um lado a

maior semelhança externa e o mais íntimo parentesco com as criações da alienação mental, são,

de outro lado, compatíveis com a mais perfeita saúde na vida desperta. Não é nenhum paradoxo

afirmar que quem fica admirado ante essas alucinações, delírios ou mudanças de caráter que

podemos chamar `normais’, sem procurar explicá-los, não tem a menor probabilidade de

compreender, senão como qualquer leigo, as formações anormais dos estados psíquicos

patológicos. E entre esses leigos os ouvintes podem contar atualmente, sem receio, quase todos

os psiquiatras.

Acompanhem-me agora numa rápida excursão pelo campo dos problemas do sonho.

Quando acordados, costumamos tratar os sonhos com o mesmo desdém com que os doentes

rejeitam as idéias soltas despertadas pelo psicanalista. Desprezamo-los, olvidando-os em geral

rápida e completamente. O nosso descaso funda-se no caráter exótico apresentado mesmo pelos

sonhos que possuem clareza e nexo, e sobre a evidente absurdez e insensatez dos demais; nossa

repulsa explica-se pelas tendências imorais e menos pudicas que se patenteiam em muitos deles. (...)

Em primeiro lugar, nem todos os sonhos são estranhos, incompreensíveis e confusos para

a pessoa que sonhou. Examinando os sonhos de criancinhas, desde um ano e meio de idade,

verificarão que eles são extremamente simples e de fácil explicação. A criancinha sonha sempre

com a realização de desejos que o dia anterior lhe trouxe e que ela não satisfez. Não há

necessidade de arte divinatória para encontrar solução tão simples; basta saber o que se passou

com a criança na véspera (`dia do sonho’). Estaria certamente resolvido, e de modo satisfatório, o

enigma do sonho, se o do adulto não fosse nada mais que o da criancinha: realização de desejos

trazidos pelo dia do sonho. E o é de fato. As dificuldades que esta solução apresenta removem-se

uma a uma, mediante a análise minuciosa dos sonhos.

A primeira objeção e a mais importante é a de que os sonhos dos adultos via de regra têm

um conteúdo ininteligível, sem nenhuma semelhança com a satisfação de desejos. Resposta:

estes sonhos estão distorcidos, o processo psíquico correspondente teria originariamente uma

expressão verbal muito diversa. O conteúdo manifesto do sonho, recordado vagamente de manhã

e que, não obstante a espontaneidade aparente, se exprime em palavras com esforço, deve ser

diferenciado dos pensamentos latentes do sonho que se têm de admitir como existentes no

inconsciente. Esta deformação possui mecanismo idêntico ao que já conhecemos desde quando

examinamos a gênese dos sintomas histéricos; e é uma prova da participação da mesma interação

de forças mentais tanto na formação dos sonhos como na dos sintomas. O conteúdo manifesto do

sonho é o substituto deformado para os pensamentos inconscientes do sonho. Esta deformação é

obra das forças defensivas do ego, isto é, das resistências que na vigília impedem, de modo geral,

a passagem para a consciência, dos desejos reprimidos do inconsciente; enfraquecidas durante o

sono, estas resistências ainda são suficientemente fortes para só os tolerar disfarçados. Quem

sonha, portanto, reconhece tão mal o sentido de seus sonhos, como o histérico as correlações e a

significação de seus sintomas.

De que há pensamentos latentes do sonho e que entre eles e o conteúdo manifesto existe

de fato o nexo aludido, os presentes se convencerão pela análise de sonhos, cuja técnica se

confunde com a da psicanálise. Pondo de lado a aparente conexão dos elementos do sonho

manifesto, procurarão os senhores evocar idéias por livre associação, partindo de cada um desses

elementos e observando as regras da prática psicanalítica. De posse deste material chegarão aos

pensamentos latentes do sonho com a mesma perfeição com que conseguiram surpreender no

doente o complexo oculto, por meio das idéias sugeridas pelas associações livres a partir dos

sintomas e lembranças. Pelos pensamentos latentes do sonho, descobertos desse modo, pode-se

ver sem mais nada como é justo equiparar o sonho dos adultos ao das crianças. O que agora,

como verdadeiro sentido do sonho, substitui o seu conteúdo manifesto - e isto é sempre

claramente compreensível - liga-se às impressões da véspera e se patenteia como a realização de

um desejo não-satisfeito. O sonho manifesto que conhecem no adulto graças à recordação pode

então ser descrito como uma realização velada de desejos reprimidos.

Podem agora os ouvintes, por uma espécie de trabalho sintético, examinar o processo

mediante o qual os pensamentos inconscientes do sonho se disfarçam no conteúdo manifesto.

Esse processo, que denominamos `elaboração onírica’, é digno de nosso maior interesse teórico,

porque em nenhuma outra circunstância poderíamos estudar melhor do que nele os processos

psíquicos, não-suspeitados, que se passam no inconsciente, ou, mais exatamente, entre dois

sistemas psíquicos distintos, como consciente e inconsciente. Entre tais processos psíquicos

recentemente descobertos ressaltam notavelmente o da condensação e o do deslocamento. A

elaboração onírica é um caso especial da influência recíproca de agrupamentos mentais diversos,

isto é, o resultado da divisão psíquica, e parece essencialmente idêntico ao trabalho de

deformação que transforma em sintomas os complexos cuja repressão fracassou.

Pela análise dos sonhos descobrirão os senhores ainda mais, com surpresa, porém do

modo mais convincente possível, o papel importantíssimo e nunca imaginado que os fatos e

impressões da tenra infância exercem no desenvolvimento do homem. Na vida onírica a criança

prolonga, por assim dizer, sua existência no homem, conservando todas as peculiaridades e

aspirações, mesmo as que se tornam mais tarde inúteis. Com força irresistível apresentar-se-lhe-ão os processos de desenvolvimento, repressões, sublimações e formações reativas, de onde

saiu, da criança com tão diferentes disposições, o chamado homem normal - esteio e em parte

vítima da civilização tão penosamente alcançada.

Quero ainda fazer notar que pela análise de sonhos também pudemos descobrir que o

inconsciente se serve, especialmente para a representação de complexos sexuais, de certo

simbolismo, em parte variável individualmente e em parte tipicamente fixo, que parece coincidir

com o que conjecturamos por detrás dos nossos mitos e lendas. Não seria impossível que essas

últimas criações populares recebessem, portanto, do sonho, a sua explicação.

Impende-nos adverti-los finalmente de que não se deixem desorientar pela objeção de que

aparecimento de pesadelos contradiz o nosso modo de entender o sonho como satisfação de

desejos. Além de que é necessário interpretar os pesadelos antes de sobre eles poder firmar

qualquer juízo, pode dizer-se de modo geral que a ansiedade que os acompanha não depende

assim tão simplesmente do conteúdo oniríco, como muitos imaginam por ignorar as condições da

ansiedade neurótica. A ansiedade é uma das reações do ego contra desejos reprimidos violentos,

e daí perfeitamente explicável a presença dela no sonho, quando a elaboração deste se pôs

excessivamente a serviço da satisfação daqueles desejos reprimidos.

Como vêem, o estudo dos sonhos já estaria em si justificado, pelo fato de que proporciona

conclusões sobre coisas de que por outros meios dificilmente chegaríamos a ter noção. Foi todavia

no decorrer do tratamento psicanalítico dos neuróticos que chegamos até ele. Pelo que até agora

dissemos podem compreender facilmente que a interpretação de sonhos, quando não a estorvam

em excesso as resistências do doente, leva ao conhecimento dos desejos ocultos e reprimidos,

bem como dos exemplos entretidos por este.

Extraído de “Cinco Lições de Psicanálise”, de Sigmund Freud

Freud no Mundo de Sofia 8

Mas apredram-nas. Essas palavras e pensamentos estavam latentes na consciência, porém só naquele momento, quando devido ao cansaço o cuidado diminui e já não há censura, é que elas vêm à luz.

Para um artista a situação é diferente. Mas para ele também é importante que a razão e a reflexão não controlem aquilo que se desenvolve melhor de uma forma livre, espontânea e inconsciente. Posso contar-te uma pequena fábula que ilustra o que eu disse?

- De bom grado.

-É uma fábula muito séria e muito triste.

- Começa!

- Era uma vez uma centopéia que com as suas cem pernas era muito boa a dançar. Quando dançava, os animais reuniam-se no bosque para a admirar e todos estavam muito impressionados pela sua habilidade. Só um animal não podia suportar que a centopéia dançasse, um sapo...

- Certamente tinha inveja.

-"Como é que posso impedi-la de dançar", pensou o sapo. Não podia dizer que não gostava da dança nem que era melhor a dançar do que a centopéia, seria um absurdo. Por fim, tramou um plano diabólico.

-Fala!

- Escreveu uma carta à centopéia: "Ó incomparável centopéia! Sou um devoto admirador da tua requintada dança. Gostaria de saber como te moves a dançar. Levantas primeiro a perna esquerda número 22 e depois a perna direita número 59? Ou começas por levantar a tua perna direita número 26 antes de levantares a tua perna esquerda número 44?

Aguardo ansiosamente uma resposta tua. Saudações cordiais, o sapo."

- Que horror!

- Quando a centopéia recebeu esta carta, refletiu pela primeira vez na sua vida no que fazia quando dançava. Que perna movia em primeiro lugar? E que perna vinha a seguir? O que te parece que aconteceu depois?

- Acho que a centopéia não voltou a dançar.

- Sim, foi o fim. É justamente isso que pode suceder quando a fantasia é sufocada pela razão.

- É uma história mesmo triste.

- Para um artista pode ser importante "deixar-se ir". Os surrealistas tentaram atingir um estado no qual tudo fluísse por si. Sentavam-se em frente a uma folha em branco e começavam a escrever sem pensarem no que estavam a escrever.

Chamaram-lhe “escrita automática”. A expressão provém do espiritismo, onde um médium acreditava que a caneta era guiada pelo espírito de um defunto. Mas voltaremos a falar destas coisas amanhã.

- Está bem.

- O artista surrealista também é de certo modo um médium, o médium do seu inconsciente. Mas talvez esteja presente um elemento inconsciente em qualquer processo criativo. Porque, o que é na realidade aquilo a que chamamos "criatividade"?

- Não é o fato de se criar uma coisa nova?

-Sim, e isso sucede quando existe uma colaboração entre fantasia e razão.

Demasiadas vezes, a razão sufoca a fantasia e isso é uma coisa grave, porque sem fantasia nunca nasce algo verdadeiramente novo. Eu vejo a fantasia como um sistema darwiniano.

- Desculpa, mas não compreendi isso.

- O darwinismo mostra que na natureza nascem mutantes uns a seguir aos outros, mas a natureza só precisa de alguns. Só alguns têm a possibilidade de sobrevivência.

- Sim?

- O mesmo sucede quando pensamos, quando estamos inspirados e temos muitas idéias.

Um "pensamento mutante" surge a seguir a outro na nossa consciência, se não nos submetemos a uma censura demasiado severa. Mas só alguns destes pensamentos podem ser utilizados. Neste ponto a razão ocupa o seu lugar, porque também tem uma função importante. Quando a caça do dia está na mesa, não podemos esquecer-nos de ser seletivos.

- É uma boa comparação.

- Imagina que tudo aquilo que nos impressionou, ou seja, toda a nossa fonte de inspirações, passasse pelos nossos lábios! Ou abandonasse o bloco de notas ou a gaveta da escrivaninha. O mundo afogar-se-ia num mar de idéias acidentais e não haveria qualquer escolha, Sofia.

- E é a razão que seleciona todas as idéias?

- Sim, ou achas que não? Talvez seja a fantasia que cria uma coisa nova, mas não é responsável pela escolha. Não é a fantasia que "compõe": uma composição, e qualquer obra de arte é uma composição, surge de uma colaboração admirável entre fantasia e razão, ou entre sensibilidade e pensamento. Há sempre algo de casual num processo criativo e, numa certa fase, é importante não fechar a porta a essas idéias casuais. É preciso soltarmos as ovelhas antes de começarem a pastar.

Freud no Mundo de Sofia 7

- Exato. Se bem que esse interesse já se tivesse manifestado na literatura nos últimos dez anos do século passado, ou seja, antes de a psicanálise de Freud ser conhecida. Isso significa que não foi por acaso que a psicanálise de Freud surgiu nessa época.

- Queres dizer que fazia parte do espírito do tempo?

- Freud foi o primeiro a afirmar que não fora ele a inventar fenômenos como o recalcamento, os atos falhados e a racionalização, mas simplesmente o primeiro a levar essas experiências humanas à psiquiatria. Freud foi muito hábil a servir-se de exemplos literários para ilustrar a sua teoria. Mas, como dissemos, a partir dos anos 20 a psicanálise influencia mais diretamente a arte e a literatura.

- Como?

- Os poetas e os pintores procuraram servir-se das forças inconscientes no seu trabalho de criação. Isto é válido para os chamados surrealistas.

-E quem eram?

-"Surrealismo" é uma palavra de origem francesa e significa literalmente "além da realidade". Em 1924, “André Breton” publicou um "manifesto surrealista" no qual afirmou que a arte devia provir do inconsciente, pois só assim o artista podia obter as suas imagens oníricas com inspiração livre e tender para uma "suprarrealidade", na qual as diferenças entre sonho e realidade são suprimidas. De fato, também pode ser importante para um artista destruir a censura da consciência, para que as palavras e as imagens possam fluir livremente.

- Compreendo.

- De certo modo, Freud tinha mostrado que todos os homens são artistas: um sonho é uma pequena obra de arte e todas as noites criamos sonhos. Para interpretar os sonhos dos seus pacientes, Freud tinha de atravessar uma floresta de símbolos, mais ou menos como sucede quando interpretamos um quadro ou um texto literário.

- E sonhamos todas as noites?

- Investigações recentes mostram que sonhamos cerca de vinte por cento do tempo em que dormimos, ou seja, duas a três horas por noite. Se somos perturbados durante o sono, tornamo-nos nervosos e irritáveis. Isto significa, entre outras coisas, que todos os homens têm uma necessidade inata de dar expressão artística à sua situação existencial, e o sonho trata de nós.

Somos os realizadores, somos nós que imaginamos o enredo, somos nós que desempenhamos todos os papéis. Uma pessoa que afirma não entender nada de arte conhece-se mal.

- Compreendo.

- Freud também mostrou que a consciência humana é fantástica. O seu trabalho com os pacientes convenceu-o de que conservamos em algum local profundo da mente tudo aquilo que vimos e que vivemos e todas estas impressões podem ser trazidas à superfície.

Quando temos um "vazio mental" e depois temos isso "na ponta da língua" e por fim "nos veio à mente", estamos a falar de algo que estava no inconsciente e que de repente se torna manifesto passando por uma porta entreaberta.

- Mas, por vezes, isso demora muito tempo.

- Todos os artistas têm consciência disso, mas, subitamente, todas as portas e gavetas dos arquivos parecem abrir-se. Tudo flui por si, e podemos escolher exatamente as palavras e as imagens de que precisamos. Isso sucede quando abrimos um pouco mais a porta para o inconsciente.

Também podemos chamar a isso “inspiração”, Sofia. Temos então a sensação de que aquilo que desenhamos ou escrevemos não vem de nós mesmos.

- Deve ser uma sensação maravilhosa.

- Certamente já a experimentaste. Podemos observar esse estado em crianças muito cansadas. Por vezes, as crianças estão tão cansadas que agem de forma totalmente desperta.

De repente começam a falar, e é como se descobrissem palavras que ainda não aprenderam.

Freud no Mundo de Sofia 6

- Freud defende que devemos distinguir o sonho como o recordamos de manhã do seu verdadeiro significado. Chamou às imagens oníricas ou seja, ao "filme" que sonhamos, o “conteúdo manifesto” do sonho. Este conteúdo manifesto tem por motivo acontecimentos que se deram recentemente, muitas vezes no dia anterior.

Todavia, o sonho tem também um significado mais profundo e oculto à consciência. Freud chamou-lhe “conteúdo onírico latente”. Estes pensamentos ocultos, de que o sonho trata, podem dizer respeito a um tempo passado, por exemplo, a primeira infância.

- Então temos de analisar o sonho para compreendermos do que se trata.

- Sim, e quando são pessoas doentes, é interpretado com o terapeuta. Mas não é o médico que interpreta sozinho o sonho: só o pode fazer com a ajuda do paciente. Nesta situação, o psicanalista desempenha a função de uma parteira socrática que está presente e ajuda durante a interpretação.

- Compreendo.

- A transformação que se dá na passagem dos pensamentos oníricos latentes ao conteúdo manifesto é chamada por Freud “trabalho onírico”. Podemos falar de um camuflamento ou de uma codificação do verdadeiro significado do sonho; através da sua interpretação, deve-se percorrer um processo inverso para desmascarar ou decodificar o motivo do sonho, para descobrir o verdadeiro tema do sonho.

- Podes dar-me um exemplo?

-Nos livros de Freud há muitos desses exemplos. Mas nós podemos imaginar um muito freudiano e simples. Quando um jovem sonha que a sua prima lhe envia dois balões...

- Sim?

- Não, tens que tentar interpretá-lo sozinha.

- Hmm... o "conteúdo manifesto" do sonho é exatamente aquilo que disseste: recebe dois balões da sua prima.

- Continua!

- Disseste que o material contido pode ter a ver com algo recentemente vivido...

No dia anterior, ele estava numa feira popular ou viu a fotografia de dois balões no jornal.

- Sim, é possível, mas bastava-lhe ter visto a palavra "balão" algures ou uma coisa que lhe fizesse recordar um balão.

- Mas quais são os pensamentos oníricos latentes, ou seja, o verdadeiro significado do sonho?

-Tu és a analista.

- Talvez desejasse apenas dois balões.

-Não, isso é pouco provável. É verdade que o sonho é a realização de um desejo, mas um homem adulto não pode desejar ardentemente ter dois balões. E mesmo que isso fosse um desejo seu, não teria necessidade de sonhar com isso.

-Então, acho que na realidade ele desejava a sua prima, e os dois balões são os seus seios.

- Sim, é uma explicação provável, principalmente se esse desejo é um pouco embaraçoso para ele, de tal forma que não goste de o admitir no estado de vigília.

- Então os nossos sonhos falam numa linguagem que é preciso decodificar?

- Sim. Segundo Freud, o sonho é uma realização camuflada de desejos recalcados.

Aquilo que nós hoje camuflamos pode ter mudado muito desde que Freud era médico em Viena, mas o mecanismo de camuflagem do conteúdo onírico é o mesmo.

- Compreendo.

- A psicanálise de Freud teve uma grande importância nos anos 20, principalmente na cura de pacientes que sofriam de distúrbios psíquicos. Mas a teoria do inconsciente foi também muito importante para a arte e para a literatura.

- Queres dizer que os artistas começaram a interessar-se mais pela vida inconsciente da mente?

Freud no Mundo de Sofia 5

- Compreendo.

-Segundo Freud, a nossa vida quotidiana apresenta numerosos exemplos de ações inconscientes. Acontece freqüentemente esquecermos o nome de uma pessoa, remexermos na roupa enquanto falamos ou mudarmos o lugar dos objetos, aparentemente por acaso, na sala. Além disso, podemos tropeçar nas palavras e enganarmo-nos a falar, ações que poderiam parecer totalmente incautas. Mas, para Freud, os lapsos nem sempre são tão casuais nem tão inocentes como acreditamos, devem ser vistos como sintomas. Atos falhados deste tipo ou "ações casuais" podem revelar os segredos mais íntimos.

- A partir de agora vou refletir bem antes de dizer uma palavra.

- Mas não conseguirás fugir aos teus impulsos inconscientes. A arte reside em não nos esforçarmos em empurrar demasiadas coisas desagradáveis para o inconsciente. É o mesmo que querermos tapar o buraco de uma toupeira. Podemos consegui-lo, mas também podemos ter a certeza de que a toupeira aparecerá numa outra parte do jardim. O mais saudável é deixar entreaberta a porta entre consciente e inconsciente.

- Se fechamos a porta podemos ter distúrbios psíquicos?

-Sim, um neurótico é justamente uma pessoa que despende demasiada energia para afastar da consciência aquilo que é desagradável.

Freqüentemente, são experiências particulares que esta pessoa quer recalcar: Freud chamou-lhes “traumas”. A palavra é grega e significa "ferida".

- Compreendi.

-Na cura do paciente, foi importante para Freud tentar abrir com cautela esta porta fechada, ou talvez abrir uma nova. Com a colaboração do paciente tentava trazer à luz as experiências recalcadas. O paciente não tem consciência daquilo que recalca, mas pode desejar que o médico (ou "analista" como se diz na psicanálise) o ajude a encontrar os traumas escondidos.

- Como procede o psicanalista?

- Freud chamou-lhe a técnica da “associação livre”.

Fazia o paciente deitar-se descontraído e deixava-o falar sobre o que lhe vinha à cabeça nesse momento, independentemente de poder parecer insignificante, casual, desagradável ou embaraçoso. O analista parte do princípio de que, naquilo que o paciente associa no divã, estão sempre contidas referências aos seus traumas e às resistências que impedem que eles se tornem conscientes. É que os pacientes preocupam-se com os seus traumas sempre - mas não conscientemente.

- Quanto mais nos esforçamos por esquecer alguma coisa, mais pensamos inconscientemente nisso?

- Exato. Por isso é importante tomar atenção aos sinais que provêm do inconsciente. O caminho certo para penetrar no inconsciente reside, segundo Freud, nos sonhos.

Um dos seus livros mais importantes foi de fato “A Interpretação dos Sonhos”, publicado em 1900. Nessa obra ele afirmou que aquilo que sonhamos não é casual: através dos sonhos os pensamentos inconscientes tornam-se manifestos à consciência.

- Continua!

- Depois de muitos anos de experiência com os pacientes, e depois de ter analisado os seus próprios sonhos, Freud afirmou que todos os sonhos são a “satisfação” de um desejo. Podemos observar isto nas crianças, afirmou. Sonham com gelados e cerejas. Mas, nos adultos, os desejos que o sonho quer realizar são freqüentemente camuflados, porque, mesmo quando dormimos, há uma censura relativamente àquilo que podemos ou não podemos fazer. Mesmo se durante o sono essa censura, ou mecanismo de recalcamento, está enfraquecida em relação ao nosso estado de vigília, é suficientemente forte para deformar os desejos que não queremos reconhecer.

-É por isso que os sonhos têm de ser interpretados?

Freud no Mundo de Sofia 4

- Freud descreve muitos destes mecanismos. Por exemplo, aqueles a que chamou "atos falhados", quando dizemos ou fazemos coisas que tentamos recalcar. Ele dá o exemplo de um empregado que ia brindar ao seu chefe, que não era muito popular. Ele era aquilo a que se pode chamar "um sacana".

-E o que aconteceu?

- O empregado levantou-se, elevou o seu copo solenemente e disse: "Convido-vos a arrotarem pelo nosso chefe."

- Não tenho palavras.

- O empregado também não. Na realidade tinha apenas dito aquilo que pensava sem a intenção de o dizer. Esta expressão involuntária de sinceridade era um lapso, ou seja, uma troca de palavras devido à semelhança. Em alemão – não te esqueças de que Freud era vienense - o verbo “anstossen”, "beber à saúde", é muito semelhante a “aufstossen” que significa entre outras coisas "arrotar". Queres ouvir outro exemplo?

- Sim.

- A família de um pastor, que tinha muitas filhas boas e amáveis, esperava a visita de um bispo. Acontece que este bispo tinha um nariz extremamente grande e por isso foi imposto às moças não fazerem comentários sobre o seu nariz. Porém, acontece muitas vezes que as crianças deixem escapar alguma coisa, porque o seu mecanismo de recalcamento ainda não está muito desenvolvido.

- E então?

- O bispo chegou e as moças esforçaram-se o máximo para não dizerem nada sobre o nariz. E mais ainda: tentaram nem sequer olhar para o nariz; tinham de tentar esquecê-lo. E pensavam nisso o tempo todo. Mas quando uma das filhas menores serviu o açúcar para o café, pôs-se em frente do austero bispo e disse-lhe: "Quer um pouco de açúcar no nariz?"

- Embaraçoso.

-Por vezes, também “racionalizamos”, ou seja, damos a nós e aos outros, para justificarmos aquilo que fazemos, motivos diferentes da verdadeira causa, precisamente porque a causa real é desagradável.

- Um exemplo, por favor.

- Eu posso hipnotizar-te e fazer com que abras a janela. Ordeno-te portanto que te levantes e abras a janela quando eu bater com os dedos na mesa. Depois pergunto-te por que razão abriste a janela. Talvez me respondas que abriste a janela porque achaste que estava calor. Mas esse não é o verdadeiro motivo: não queres admitir para ti mesma que fizeste uma coisa por minha ordem, sob hipnose. Neste caso estás a racionalizar, Sofia.

- Compreendo.

- Quase todos os dias acontece comunicarmos, por assim dizer, com sentido duplo.

- Eu falei do meu primo de quatro anos. Não me parece que tenha muitas crianças com quem jogar, pelo menos fica muito contente quando o vou ver. Uma vez disse-lhe que tinha de me apressar para voltar a casa e sabes o que me respondeu?

-Diz!

- "Ela é estúpida", disse ele.

- Sim, isso é verdadeiramente um exemplo do que entendemos por racionalização: o rapaz queria dizer que segundo ele era estúpido que tivesses que te ir embora, mas não queria admiti-lo. Por vezes, acontece também que "projetamos".

-Traduz.

-Quando projetamos, transferimos para outras características nossas que tentamos recalcar. Uma pessoa muito avara, por exemplo, está inclinada a dizer que os outros são avaros. Uma outra pessoa que não quer admitir para si mesma ter interesse por sexo, será talvez a primeira a irritar-se porque os outros têm fixação pelo sexo.

Freud no Mundo de Sofia 3

natural e fundamental do homem. E então, minha cara Sofia, surge um conflito entre prazer e culpa que durará toda a vida.

- Não achas que esse conflito se atenuou desde o tempo de Freud?

- Certamente. Mas muitos dos pacientes de Freud viviam-no tão intensamente que desenvolviam aquilo a que Freud chamou “neurose”. Uma das suas pacientes, por exemplo, estava apaixonada pelo cunhado. Quando a irmã morreu devido a uma doença, ela pensou: "Agora ele está livre e podemos casar!" Este pensamento entrou naturalmente em contradição com o superego. Era tão monstruoso que ela o recalcou, como diz Freud. Quer dizer que ela o empurrou para o inconsciente. Essa moça adoeceu e apresentou graves sintomas histéricos, e quando Freud se encarregou da cura, verificou-se que ela se tinha esquecido completamente da cena junto ao leito de morte da irmã e do desejo horrível, egoísta, que emergira nela. Mas durante o tratamento recordou-o, reproduziu aquele momento patogênico e ficou curada.

- Agora compreendo melhor o que queres dizer com "arqueologia psíquica".

- Então vou tentar fazer uma descrição geral de mente humana. Após uma longa experiência na cura dos doentes, Freud chegou à conclusão de que a “consciência” constitui apenas uma pequena parte da mente humana. A parte consciente é comparável à ponta de um iceberg que vemos sobressair da água. Sob a superfície da água, - ou sob o limiar da consciência - há o “inconsciente”.

- Então o inconsciente é tudo aquilo que está em nós, mas que esquecemos ou não recordamos?

- Não temos sempre presentes na consciência todas as nossas experiências, mas tudo o que pensamos ou vivemos e que nos vem à mente se "pensarmos um pouco", foi designado por Freud "pré-consciente". O termo inconsciente foi usado por Freud apenas para aquilo que recalcamos, ou seja, as coisas que queremos esquecer por serem desagradáveis, indecentes ou repugnantes.

Se temos desejos ou vontades que são intoleráveis para a nossa consciência – ou para o super-ego, - empurramo-los para o rés-do-chão. Fora com eles!

- Compreendo.

- Este mecanismo funciona em todas as pessoas sãs, mas manter longe da consciência os pensamentos desagradáveis ou proibidos exige tal esforço que provoca problemas nervosos. Aquilo que é recalcado tenta reemergir por si na consciência, de forma que cada vez mais energia tem de ser usada para manter os impulsos desse gênero longe da consciência. Quando Freud deu lições sobre a psicanálise em 1909 nos EUA, explicou com um exemplo simples o funcionamento deste mecanismo de recalcamento.

-Conta!

- Ele disse aos ouvintes: "Imaginemos que nesta sala se encontra um indivíduo que me perturba e distrai rindo de um modo insolente, falando e batendo com os pés. Declaro que assim não posso continuar a conferência e, nessa altura, alguns homens robustos levantam-se e depois de uma breve luta lançam fora o importuno. Ele é assim "removido" e eu posso continuar. Para que não haja mais distúrbios, caso o indivíduo tente entrar novamente na sala, os homens que executaram a minha vontade põem as suas cadeiras à porta, feita a remoção, e ficam lá como "resistência". Se imaginarmos a sala como o consciente e o corredor como o inconsciente temos uma boa imagem do processo de recalcamento."

- Eu também acho que é uma boa imagem.

- Mas o indivíduo quer voltar a entrar, Sofia. Isto é o que acontece, pelo menos com os pensamentos e os impulsos recalcados: vivemos sob uma "pressão" constante devido aos pensamentos recalcados que tentam emergir do inconsciente. Por esse motivo, dizemos ou fazemos freqüentemente coisas sem querer e, deste modo, as reações inconscientes dominam os nossos sentimentos e as nossas ações.

- Podes dar-me um exemplo?

Freud no Mundo de Sofia 2

- E então?

-Da mesma forma, um psicólogo pode "escavar" na consciência do seu paciente com a ajuda deste, para trazer à luz as experiências que estão na origem dos sofrimentos psíquicos. Segundo Freud, conservamos dentro de nós todas as recordações do passado.

- Agora compreendo.

- E por vezes encontra uma experiência dolorosa que o paciente tentou sempre esquecer, mas que permaneceu no fundo e destrói a sua resistência.

Quando essa "experiência traumática" é trazida à consciência - e apresentada ao paciente - ele pode "libertar-se" dela e curar-se.

- Parece lógico.

- Mas fui demasiado rápido. Vamos primeiro ver como Freud descreve a mente humana. Já alguma vez viste um recém-nascido?

- Eu tenho um primo de quatro anos.

- Quando vimos ao mundo, vivemos de modo direto e sem constrangimento as nossas necessidades físicas e psíquicas. Se não nos dão leite, choramos e gritamos. Fazemo-lo também quando as fraldas estão molhadas. E exprimimos diretamente o nosso desejo de contato físico e de calor humano. Freud chama a este "princípio de prazer" “id”.

Quando somos bebês somos quase apenas “id”.

- Continua!

- O “id” está presente em nós durante toda a vida, mas pouco a pouco aprendemos a controlar os nossos desejos e a adequar-nos às circunstâncias. Aprendemos a adaptar as pulsões instintivas ao "princípio de realidade". Freud diz que construímos um eu (ou ego) que tem esta função reguladora. Mesmo se desejamos algo, não podemos simplesmente pôr-nos a gritar até que os nossos desejos ou necessidades sejam satisfeitos.

- Claro que não.

-Pode acontecer desejarmos algo intensamente e simultaneamente o mundo não o aceitar. Nesse caso, temos de “reprimir” os nossos desejos, ou seja, tentamos afastá-los ou esquecê-los.

- Compreendo.

- Freud tem ainda em conta uma terceira instância na mente humana: desde a infância confrontamo-nos constantemente com as obrigações morais impostas pelos pais e pelo mundo exterior. Quando fazemos alguma coisa errada, os pais dizem: "Isso não!", ou "Que vergonha!". Mesmo na idade adulta trazemos conosco um eco dessas obrigações morais e dessas condenações. As convenções morais do mundo externo parecem ter penetrado em nós e terem-se tornado parte de nós. A isso chama Freud “super-ego”.

- Queria dizer consciência?

- Num passo, Freud diz efetivamente que o Superego se coloca perante o Eu como consciência moral. Mas aquilo que importa a Freud é que em primeiro lugar o superego nos dá sinal de si quando temos desejos "indecorosos" ou "inconvenientes", principalmente se se trata de desejos eróticos ou sexuais. E, como dissemos, Freud afirmou que esse tipo de desejos já estão presentes num estádio precoce da infância.

- Explica-te!

- Hoje sabemos e vemos que as crianças pequenas gostam de tocar nos órgãos genitais.

Podemos observar isso em qualquer praia. No tempo de Freud, crianças de dois ou três anos levavam uma palmada nos dedos por isso. Nesse tempo, as crianças ouviam constantemente: "Que vergonha!", ou "Está quieto!", ou "As mãos quietas".

- Isso está mal.

- Deste modo, cria-se um sentimento de culpa, e uma vez que este sentimento de culpa se conserva no Superego, muitas pessoas, - segundo Freud a maior parte - têm um sentimento de culpa em relação ao sexo. Mas os desejos e as necessidades sexuais são uma componente

Freud no Mundo de Sofia 1

Como introdução aos estudos de Freud e psicanálise, utilizaremos um capítulo do livro “O Mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder, Tradução de: Catarina Belo. Editorial Presença.

Vou falar-te de Freud e da sua teoria sobre o inconsciente.

Sentaram-se em frente à janela. Sofia olhou para o relógio e disse:

- Já são duas e meia, e ainda tenho que fazer muita coisa para a festa do jardim.

- Eu também. Vamos falar rapidamente sobre Sigmund Freud.

- Era um filósofo?

- Podemos defini-lo como um filósofo da cultura. Freud nasceu em 1856 e estudou medicina na universidade de Viena, cidade em que passou a maior parte da sua vida, justamente no período em que a vida cultural de Viena estava no apogeu. Especializou-se no ramo da medicina que se chama neurologia. Em finais do século passado - e durante a primeira metade deste século - elaborou a sua “psicologia analítica” ou “psicanálise”.

- Espero que expliques isso melhor.

-Por psicanálise entendemos quer uma descrição da psicologia humana em geral quer um método para a cura das doenças nervosas e psíquicas. Não tenho intenção de te fornecer um quadro completo nem de Freud nem da sua atividade, mas a sua doutrina do inconsciente é fundamental para compreendermos o que é um ser humano.

- Já conseguiste despertar o meu interesse. Fala!

- Segundo Freud, existe sempre uma tensão entre um ser humano e o ambiente que o rodeia. Mais precisamente, trata-se de uma tensão, ou de um conflito, entre as pulsões e necessidades do homem e as exigências do mundo externo. Não é exagerado afirmar que foi Freud a descobrir a vida instintiva do homem, e isto torna-o um expoente das correntes naturalistas, dominantes no final do século.

- O que queres dizer com "vida instintiva" do homem?

- Nem sempre a razão domina as nossas ações: o homem não é apenas um ser racional como os racionalistas do século XVIII pensavam. Muitas vezes, são os impulsos irracionais que determinam o que pensamos, o que sonhamos e fazemos. Estes impulsos irracionais podem ser expressão de pulsões profundas ou de necessidades. Tão importante como a necessidade de sucção do recém-nascido é o impulso sexual do homem.

- Compreendo.

- Em si, talvez não fosse uma verdadeira descoberta, mas Freud mostrou que as necessidades deste gênero podem ser "camufladas" ou "transformadas" e dominar assim as nossas ações sem que tenhamos consciência disso.

Mostrou ainda que mesmo as crianças têm a sua forma de sexualidade. Esta constatação da sexualidade infantil provocou na burguesia culta vienense uma reação de repulsa que tornou Freud muito impopular.

- Não é de admirar.

- Estamos a falar da chamada época vitoriana, quando tudo o que tinha a ver com a sexualidade era considerado tabu. Freud tinha chegado às suas conclusões sobre a sexualidade infantil através da sua prática como psicoterapeuta, logo, as suas afirmações tinham um fundamento empírico.

Ele tinha também verificado que muitas formas de doenças psíquicas podiam ser reconduzidas a conflitos na instância. Gradualmente, desenvolveu um método de cura que podemos definir como uma espécie de "arqueologia psíquica".

- O que queres dizer com isso?

- Um arqueólogo procura encontrar vestígios de um passado longínquo escavando os diversos estratos culturais: encontra uma faca do século XVII, um pouco mais abaixo descobre um pente do século XIV e ainda mais abaixo um vaso do século IV.

sábado, 23 de outubro de 2010

Einstein, Bohr e a realidade

por Marcelo Gleiser

ATÉ QUE PONTO podemos conhecer o mundo? Alguns acreditam que podemos ir até o fim, encontrando respostas para as perguntas mais profundas sobre as operações da natureza. Outros acreditam que o conhecimento que podemos adquirir sobre o mundo tem limites. Esses limites não são apenas uma consequência dos nossos cérebros ou das ferramentas que usamos para estudar a realidade física. Fazem parte da própria natureza.

Dentro da história da ciência, talvez a melhor expressão dessa dicotomia seja encontrada nos famosos debates entre Albert Einstein e Niels Bohr, que se deram até a morte de Einstein em 1955.

Esses dois gigantes da física do século 20, que tinham grande respeito intelectual um pelo outro, trocaram opiniões em diversas ocasiões, tentando interpretar as misteriosas propriedades da ciência que ambos ajudaram a desenvolver: a estranha mecânica quântica, a física das moléculas, dos átomos e das partículas subatômicas.

Em 1905, Einstein publicou o artigo que considerava o mais revolucionário de sua obra. Nele, propôs que, diferentemente da visão prevalente na época, na qual a luz era vista como uma onda, ela também podia ser imaginada como feita de corpúsculos, mais tarde chamados de fótons. A questão era como algo podia ser onda e partícula ao mesmo tempo. A situação piorou em 1924, quando Louis de Broglie sugeriu que não só fótons, mas prótons e toda a matéria, também eram ondas.

A nova mecânica quântica impôs duas restrições fundamentais ao conhecimento: só podemos saber a probabilidade de encontrar uma partícula em algum lugar do espaço; o observador interage com o observado. Consequentemente, o determinismo da física clássica, a do nosso cotidiano, é apenas uma aproximação de uma realidade na qual o conhecimento completo parece ser uma impossibilidade.

Einstein não podia aceitar isso. Em carta a Max Born, que havia proposto a interpretação probabilística, escreveu: "A mecânica quântica demanda nossa atenção... A teoria funciona bem, mas não nos aproxima dos segredos do Velho. De qualquer forma, estou convencido que Ele não joga dados".

Para Einstein, uma descrição probabilística da natureza não podia ser a palavra final. A natureza era ordenada. Acreditava que, em nível mais profundo, tudo voltaria ao determinismo que conhecemos. Para Bohr, o sucesso da mecânica quântica falava por si mesmo. Via a relação entre observador e observado como uma expressão da nossa conexão com o mundo. Tanto que, quando recebeu a Ordem do Elefante da coroa dinamarquesa em 1947, escolheu o símbolo taoísta do yin e do yang como brasão.

As coisas permanecem em aberto. Experimentos que tentaram encontrar algum vestígio de uma estrutura mais profunda do que a probabilidade quântica falharam. Por outro lado, a mecânica quântica exibe propriedades bizarras: um sistema pode afetar o comportamento de outro a distâncias enormes. Einstein chamava isso de "ação fantasmagórica à distância". Existem efeitos não locais (sem a causa e o efeito que conhecemos tão bem) que parecem desafiar o espaço e o tempo. Einstein e Bohr adorariam saber que o debate continua.

publicado na Folha de São Paulo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Coleção de Aforismas de Nietzsche


Segue uma pequena coleção de aforismas de Nietzsche lidos em sala.


E sabeis sequer o que é para mim ‘o mundo’? Devo mostrá-lo a vós em meu espelho? Este mundo: uma monstruosidade de força, sem início, sem fim, uma firme, brônzea grandeza de força, que não se torna maior, nem menor, que não se consome, mas apenas se transmuda... quereis um nome para esse mundo? Uma solução para todos os seus enigmas? Uma luz também para vós, vós, os mais escondidos, os mais fortes, os mais intrépidos, os mais da meia-noite? –Esse mundo é a vontade de potência, e nada além disso! E também vós próprios sois essa vontade de potência- e nada além disso! Fragmentos Póstumos, 38.

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[A vontade de potência] deveria ser algo, não um sujeito, não um objeto, não uma força, não uma matéria, não um espírito, não uma alma; mas, dir-me-ão, poder-se-ia confundir-se algo desse gênero com uma quimera. Eu mesmo o creio. E seria ruim se não fosse assim: é preciso mesmo que ela possa confundir-se com tudo o que existe e pudesse existir, e não somente com a quimera. Ela deve ser o grande traço de família com o qual todas as coisas se reconhecem como aparentadas com ela. Fragmentos póstumos, 40.


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[A verdade é] apenas um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitiçadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornam gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas.

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Homem! Tua vida inteira como uma ampulheta será sempre desvirada outra vez e sempre se escoará outra vez – um grande minuto de tempo no intervalo, até que todas as condições, a partir das quais vieste a ser, se reúnam outra vez no curso circular do mundo e então encontrarás cada dor e cada prazer e cada amigo e cada inimigo, esperança e cada erro e cada folha de grama e cada raio de sol outra vez. O eterno retorno

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Sonha-se com Estados nos quais este tipo de homem perfeito tenha a seu favor uma enorme maioria: não fizeram outra coisa nossos socialistas, nem os senhores utilitaristas. Com isso parece assinalar-se um fim à evolução humana: em todo caso, a fé em um progresso até o ideal é a única forma em que se concebe o fim da história. ‘In summa’: colocou-se o ‘reino de Deus’ no futuro, na terra, no humano, mas no fundo conservou-se a fé no antigo ideal. fragmentos póstumos, 8.

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Defeito Hereditário dos Filósofos

Todos os filósofos têm em comum o defeito de partir do homem atual e acreditar que, analisando-o, alcançam seu objetivo. Involuntariamente imaginam "o homem" como uma eterna veritas (verdade eterna), como uma constante em todo o redemoinho, uma medida segura das coisas. Mas tudo o que o filósofo declara sobre o homem, no fundo, não passa de testemunho sobre o homem de um espaço de tempo bem limitado. Falta de sentido histórico é o defeito hereditário de todos os filósofos; inadvertidamente, muitos chegam a tomar a configuração mais recente do homem, tal como surgiu sob a pressão de certas religiões e mesmo de certos eventos políticos, como a forma fixa de que se deve partir. Não querem aprender que o homem veio a ser, e que mesmo a faculdade de cognição veio a ser; enquanto alguns deles querem inclusive que o mundo inteiro seja tecido e derivado dessa faculdade de cognição.

-Mas tudo o que é essencial na evolução humana se realizou em tempos primitivos, antes desses quatro mil anos que conhecemos aproximadamente; nestes o homem já não deve ter se alterado muito. O filósofo, porém, vê "instintos" no homem atual e supõe que estejam entre os fatos inalteráveis do homem, e que possam então fornecer uma chave para a compreensão do mundo em geral: toda a teleologia se baseia no fato de se tratar o homem (físico) dos últimos quatro milênios como um ser eterno, para o qual se dirigem naturalmente todas as coisas do mundo, desde o seu início. Mas tudo veio a ser; não existem fatos eternos: assim como não existem verdades absolutas. - Portanto, o filosofar histórico é doravante necessário, e com ele a virtude da modéstia.

Humano, demasiado humano, § 2.

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O ilógico necessário

Entre as coisas que podem levar um pensador ao desespero está o conhecimento de que o ilógico é necessário para o homem e de que do ilógico nasce muito de bom. Ele esta tão firmemente implantado nas paixões, na linguagem, na religião e em geral em tudo aquilo que empresta valor à vida, que não se pode extraí-lo sem com isso danificar irremediavelmente essas belas coisas. São somente os homens demasiado ingênuos que podem acreditar que a natureza do homem possa ser transformada em uma natureza puramente lógica; mas se houver graus de aproximação desse alvo, o que não haveria de se perder nesse caminho! Mesmo o homem mais racional precisa outra vez, de tempo em tempo, da natureza, isto é de sua postura fundamental ilógica diante de todas as coisas. Humano, demasiado humano, § 31.


Atividade proposta

Apenas para aqueles que não entregaram a atividade em sala: ler os aforismas e escolher quatro deles para explicar seu conteúdo, o tema a que se referem e o contexto a partir da filosofia de Nietzsche.