domingo, 9 de maio de 2010

Em busca de uma filosofia da adolescência


Atendendo ao desejo dos alunos de falar sobre a adolescência, o curso de filosofia dedica-se a uma investigação sobre este tema. Inicialmente existe uma questão de método: como se aproximar da adolescência? O filósofo pode sair às ruas, como fez Sócrates, e perguntar: “o que é a adolescência”; “como é”; “quem é o adolescente”, ou ainda, “existe a adolescência”? Ele pode também buscar informações sobre o tema na imprensa e na história da filosofia dos últimos vinte e cinco séculos.

O nosso primeiro passo foi a leitura de jornais atuais que falassem sobre os adolescentes. Temas como as pulseirinhas do sexo, as baladas, o uso de bonés, o controle das faltas na universidade, os adolescentes trabalhadores e os filmes destinados ao público jovem foram discutidos e confrontados com a opinião dos alunos da escola. A maior parte das opiniões demonstrou que as reportagens faziam uma imagem estereotipada do adolescente e que não condizia com a realidade do cotidiano. Assim, foi necessário buscar referências filosóficas para prosseguir a investigação, que segue na pergunta: a adolescência existe?

A legitimidade da questão se baseia no preceito que move a filosofia: sempre duvidar daquilo que é aceito como consenso por todos. Apesar de existir um fenômeno biológico chamado de puberdade e da psicologia adotar critérios clínicos para definir a adolescência:

1) busca de si mesmo e da identidade;

2) tendência grupal;

3) necessidade de intelectualizar e fantasiar;

4) crises religiosas, que podem ir desde o ateísmo mais intransigente até o misticismo mais fervoroso;

5) deslocalização temporal, em que o pensamento adquire as características de pensamento primário;

6) evolução sexual manifesta, desde o auto-erotismo até a heterossexualidade genital adulta; 7) atitude social reivindicatória com tendências anti ou associais de diversa intensidade;

8) contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta, dominada pela ação, que constitui a forma de expressão conceitual mais típica deste período da vida;

9) uma separação progressiva dos pais; e

10) constantes flutuações de humor e do estado de ânimo" (Knobel)

Para a filosofia, a adolescência somente pode ser considerada existente se houver um consenso social e cultural em torno dela, ou, se a sociedade reconhece o adolescente e se o adolescente se reconhece como tal. Isso de fato existe e é embasado na legislação brasileira através do Estatuto da Criança e do Adolescente que se dedica a garantir condições adequadas para as duas fases da vida.

Mas cabe lembrar que em outras culturas, como nas ilhas Samoa, estudadas pela antropóloga Margaret Mead, a adolescência pode não existir ou pode ter significado diferente daquele que a nossa civilização lhe atribui. Historicamente a adolescência nem sempre existiu. Nos tempos bíblicos não havia essa fase da vida e aos treze anos o indivíduo já era considerado adulto.

Faz-se necessário ampliar a pesquisa e buscar a história da filosofia para esclarecer nossos questionamentos.

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