domingo, 22 de agosto de 2010

A dialética hegeliana 2

“A verdade não é nem o Ser nem o Nada, mas o fato de que o Ser passou (e não passa) ao Nada, e o Nada ao Ser. Contudo, do mesmo modo, a verdade não é a indiferenciação deles, mas sua não-identidade e sua diferença absoluta, e apesar disto, mais uma vez, eles são unidos e inseparáveis, e cada um deles desaparece imediatamente no seu oposto. A verdade deles é pois esse movimento de desaparecimento imediato de um no outro: o Devir. Movimento no qual eles estão ambos bem separados, mas por uma diferença que é imediatamente anulada.”


O texto acima, escrito pelo filósofo alemão G. W. F. Hegel, trata de uma definição dialética da verdade. O modo de pensar dialético é diferente daquele que conhecemos tradicionalmente (atribuído em grande medida a Aristóteles, vide post sobre noções de lógica aristotélica). Com Hegel, a verdade é conhecida não por um pólo (o Ser) ou outro (o Nada), mas é algo que está entre os dois: passagem do Ser ao Nada e vice-versa, mas admitindo que ao mesmo tempo não haja passagem.


Na dialética, a contradição é admitida e necessária, enquanto que na lógica aristotélica não é possível haver Ser e Nada ao mesmo tempo, a contradição é impensável e a verdade é um único estado, no exemplo, ela pode ser o Ser ou o Nada, mas não os dois contrários ao mesmo tempo.


Mas a verdade não é a igualdade entre Ser e Nada (‘indiferenciação’), é justamente o fato de que ambos não são idênticos e têm uma diferença absoluta entre eles. A verdade está na diferença e na união e separação simultânea de ambos, no desaparecimento de um no outro. O Ser desaparece no Nada e o Nada desaparece no ser. Diz Hegel que o Devir é a verdade como movimento de desaparecimento de um no outro. O movimento tem separação, embora a diferença seja anulada.


Comparando novamente com a lógica tradicional de Aristóteles, Hegel não faz o mesmo uso de identidade e diferença como coisas fixas, mas intercambiáveis e partes de um mesmo processo de transformação que ocorre o tempo todo. Para Aristóteles, a identidade é aquilo que é igual a si mesmo, ou seja, exclusivo de um único Ser. Por exemplo: eu sou idêntico a mim mesmo e a minha identidade é o eu (repare que é uma tautologia indispensável para poder pensar logicamente) e a diferença, por contraste, é aquilo que não é igual a si mesmo. A filosofia dialética de Hegel admite o idêntico que se torna não-idêntico pelo Devir e retorna à sua identidade ao final do processo, mas como uma nova identidade que incorpora todas as fases do diferente, o negativo ou o não-idêntico.


O modo dialético hegeliano foi utilizado por muitos filósofos, com adaptações, entre eles Karl Marx e Friedrich Engels para pensar os processos históricos, as relações sociais entre patrões e empregados (ou burgueses e proletários) ou mesmo as relações naturais. Também permite pensar a relação eu-outro ou ser humano e natureza.

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