O seu olhar lá fora,
O seu olhar no céu,
O seu olhar demora,
O seu olhar no meu,
O seu olhar,seu olhar melhora, melhora o meu.
Paulo Tatit e Arnaldo Antunes
Para mim há sempre pontos de interrogação por todo o lado.
A única coisa interessante são as perguntas, não as respostas.
Saber do que se trata. É sempre este o problema.
Do que se trata? O que é? Por quê?
Henri Cartier-Bresson fotógrafo
-Você conhece o mundo?
-Eu vi o índio na fotografia.
-É a mesma coisa?
-Acho que sim. Índio nem existe mais. E eu vi a Madonna, os vaqueiros, a capoeira, a Bahia, os mineradores, muita coisa.
-Dizem que a Madonna não existe.
-Mas eu vi na foto do jornal.
-Ela não é igual nas fotos. Dizem que ela tem rugas.
-É photoshop.
-Fotografia é realidade? Aquilo que aparece na foto é o mesmo que aconteceu na rua?
-Mas a foto não é um documento, registro dos fatos? Por que as fotos de jornal têm legendas?
-Existe uma hora certa para tirar uma foto?
-Existe o momento decisivo. Aquela hora em que a bicicleta está no lugar certo, a luz, a escada está no lugar certo...
-E o fotógrafo está atento.
-A fotografia manipula a nossa percepção?
-Ela é apenas um papel em preto e branco, ou tons de cinza.
-Então a cor não é real?
-Fotografia é crítica social?
-Pode até ser, mas aquela menina não tem cara de filha de trabalhador.
-Pra foto tudo mundo se arruma, até você.
-A fotografia comprovou a existência de fantasmas.
-Essas pessoas que aparecem nas fotos ainda vivem?
-A fotografia tira a alma das pessoas.
-Um fotógrafo é, a seu modo, um filósofo?
-Um filósofo do instante. Uma vida toda no disparo, abrir e fechar do diafragma. A vida dura 1/100 de segundo. Mas já durou muito tempo. No tempo do daguerreótipo.
-Pensar e imaginar são a mesma coisa. Mimetizar é criar.
-A fotografia não é a realidade, mas ela faz a realidade.
-Fotografia é enquadramento e inventário.
-Você já viu um índio de perto?
-Não. Só em fotos.
-O mundo enquadrado pela minha câmera aparece no quadro da parede da minha casa.
-Fotografia é espelho?
“A humanidade permanece, de forma impenitente, na caverna de Platão, ainda se regozijando, segundo seu costume ancestral, com meras imagens da verdade. (...) O inventário teve início em 1839, e, desde então tudo foi fotografado, ou pelo menos assim parece. Essa insaciabilidade do olho que fotografa altera as condições do confinamento da caverna: o nosso mundo. Ao nos ensinar um novo código visual, as fotos modificam e ampliam nossas ideias sobre o que vale a pena olhar e sobre o que temos direito de observar. (...) o resultado mais extraordinário da atividade fotográfica é nos dar a sensação de que podemos reter o mundo inteiro em nossa cabeça- como uma antologia de imagens.
“Colecionar fotos é colecionar o mundo. Filmes e programas de televisão iluminam paredes, reluzem e se apagam; mas, com fotos, a imagem é também um objeto, leve, de produção barata, fácil de transportar, de acumular, de armazenar.
“Fotografar é apropriar-se da coisa fotografada. Significa pôr a si mesmo em determinada relação com o mundo, semelhante ao conhecimento- e, portanto, ao poder. (...) as imagens fotográficas fornecem a maior parte do conhecimento que se possui acerca do aspecto do passado e do alcance do presente. O que está escrito sobre uma pessoa ou um fato é, declaradamente, uma interpretação, do mesmo modo que as manifestações visuais feitas à mão, como pinturas e desenhos. Imagens fotografadas não parecem manifestações a respeito do mundo, mas sim pedaços dele, miniaturas da realidade que qualquer um pode fazer ou adquirir.
“Embora em certo sentido a câmera de fato capture a realidade, e não apenas a interprete, as fotos são uma interpretação do mundo tanto quanto as pinturas e os desenhos.
“Fotos fornecem um testemunho. Algo de que ouvimos falar mas de que duvidamos parece comprovado quando nos mostram uma foto.” Susan Sontag- Sobre Fotografia
“Paisagens silenciosas são aquelas alheias ao burburinho constante da vida cotidiana, corriqueira. Vida governada por um tempo que transcorre na precisão e na urgência dos milésimos de segundo, um tempo senhor, que não admite despojamentos ou doações.
Em outra dimensão, a vida é vivida e não cronometrada. O tempo se desenrola, servo da lógica do mistério e da sabedoria ancestral. (...) No espaço escuro, abro o obturador da máquina, e então seleciono e superponho camadas do existir.” Lucila Wroblewiski, fotógrafa, Todas as Coisas dão Frutos
“Pela primeira vez no processo de reprodução da imagem, a mão foi liberada das responsabilidades artísticas mais importantes, que agora cabiam unicamente ao olho. Como o olho apreende mais depressa do que a mão desenha, o processo de reprodução das imagens experimentou tal aceleração que começou a situar-se no mesmo nível que a palavra oral.” Walter Benjamin A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Técnica
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