domingo, 24 de maio de 2015

Atividade 4 - 3° ano

Atividade coletiva de discussão dos textos a seguir:



"O Sentido Da Vida Parte 1" -Francisco Daudt

Do ponto de vista da mãe natureza nós já nascemos com o sentido da vida, embutido em nossos softwares cerebrais, completamente pronto.

Dizem os genes masculinos para os seus portadores: “Procrie o mais que puder com o maior número de mulheres possível, escolhendo sempre as mais belas, as mais jovens, as mais dóceis, as mais inteligentes e as mais atenciosas com suas crias. Dê alguma atenção e ajuda a elas para que suas crias não sejam prejudicadas, mas nada que te impeça de partir para a próxima. De preferência, tenha um harém bem cuidado por eunucos (você não vai querer criar filhos de outros, claro) e vá incorporando novas pelos mesmos critérios. Para isso, você precisa se preparar desde o início da vida: torne-se belo, forte, alto, inteligente, mas sobretudo rico e poderoso. Lidere guerras que possam tomar do inimigo (qualquer outro homem) suas posses e suas mulheres, pois isto te enriquecerá e encherá teu harém mais ainda (um sultão do século 19 teve 840 filhos, um exemplo de homem comandado por seus genes). Se a política do seu pais te obrigar à monogamia, drible-a, sendo um polígamo seriado: você tem dinheiro para sustentar oito ex-esposas e suas crias, e você tem tempo para isto, já que os homens não envelhecem, podem continuar acumulando dinheiro e poder, além de serem férteis até a morte.”
Dizem os genes femininos para as suas portadoras: “Procrie o mais que puder com os homens mais belos, altos, fortes, inteligentes, agressivos, mas sobretudo ricos e poderosos. Se possível, case-se com um deles e cuide para que ele te prestigie e te dê garantias de provimento, para você e suas crias pelo maior tempo possível. Se você não conseguir um topo de linha, pode se casar com um mais ou menos: você sempre pode se oferecer e procriar com o patrão dele sem que ele saiba, e colher bons genes poderosos para suas crias, desde que a aparência delas não seja testemunha da sua traição. Prepare-se para isso: comece cedo, você não tem muito tempo, e juventude é seu maior cacife. Procure ser bela, e o sendo, pareça recatada: isto aumenta seu preço de compra e ilude o homem com presumida fidelidade sua. Não conseguindo ser bela, pode ser atirada e oferecida, mas procure parecer bela, usando todos os expedientes ao seu alcance para isto. O mesmo serve para a juventude (velhas nunca foram símbolos sexuais): pareça sempre jovem. Malhação, plásticas e pintar os cabelos servem a isso. Cuide bem de suas crias, pois serão raros os homens que se preocuparão com isto.”
É, a natureza é cínica e cruel para atingir seus objetivos. Ao ponto de os biólogos dizerem que a galinha é uma máquina inventada pelo ovo para fazer outros ovos.
Mas nós somos um bicho que pensa, que deseja ética, que filosofa, e que, portanto, busca um sentido na vida que difira daquele dos genes. Isto resultou em que há inúmeros “sentidos da vida” criados por nós, mas meu objetivo era falar do que ninguém fala: da natureza humana, esta força poderosa que carregamos ser saber.
Material publicado na coluna “Natureza Humana”, da Folha de São Paulo.




“100%”,  LUIZ FELIPE PONDÉ 

Atenção, pecadores e viciados em sexo, comida, bebida, dinheiro e poder: vocês estão ultrapassados. Há uma nova ganância no ar: a mania de qualidade de vida e saúde total. Esta ganância é o que o jornal “Le Monde Diplomatique” já chamava de “la grande santé” (“a grande saúde”) nos anos 90. A mania de ter a saúde como fim último da vida.
Acho isso antes de tudo brega, mas há consequências mais sérias que um simples juízo estético para esta nova forma de ganância. Consequências morais, políticas e jurídicas: o controle científico da vida.
Agora esses fanáticos estão a ponto de demonizar o açúcar, a gordura e o sódio. Querem fotos de gente morrendo de diabetes no saco de açúcar ou de ataque cardíaco nas churrascarias. O clero fascista da saúde não para de botar para fora sua alma azeda.
Mas, como assim, ganância? Sim, esta ganância significa o seguinte: quero tirar do meu corpo o máximo que ele pode me dar. Inevitavelmente fico com cara de monstro narcisista quando dedico minha vida à saúde total. Sempre sinto um certo ar de ridículo nesses pais que obrigam seus filhos a comer apenas rúcula com pepinos e cenoura desde a infância.
Suspeito que os “purinhos”, no fundo, se deliciam quando veem fumantes morrerem de câncer ou carnívoros morrerem do coração. Sentem-se protegidos da morte porque vivem como “pombinhos da saúde”. São medrosos. A vida é desperdício, e ganancioso não gosta disso.
No caso da morte, probabilidade é como gravidade: 100% de certeza. Logo, a luta contra a morte é uma batalha perdida, nunca uma vitória definitiva.
Se você não morrer de acidentes (carro, avião, atropelamentos, assaltos, homicídios) ou de epidemias (tipo pestes) ou por endemias (tipo doença de chagas), ou de doença metabólica (tipo diabetes) ou de doenças cardiovasculares (tipo AVC ou acidente cardiovascular e ataque cardíaco), você sempre morrerá de câncer.
Claro, ainda temos contra (ou a favor) a tal herança genética. Você passa a vida comendo rúcula e morre de AVC porque suas “veias” não valem nada. Que pena, passou uma vida comendo comida sem graça e morreu na praia. E vai gastar dinheiro com hospital do mesmo jeito, ou, talvez, mais ainda. Sorry.
Logo, caro vegetariano, escapando de doenças cardiovasculares porque você evitou (religiosamente) gorduras supostamente desnecessárias, você pode simplesmente morrer de câncer porque deu azar com o pai que teve ou porque, no fim, tudo vira câncer, não sabia?
Um dia, esses maníacos da saúde total desejarão processar os pais por terem deixado que eles comessem coxinhas e brigadeiros quando eram crianças ou porque simplesmente tinham maus genes em seus gametas.
Sinceramente, não estou convencido de que viver anos demais seja muito vantajoso. Sem “abusar” da comida, da bebida, do tabaco, do sexo, das horas mal dormidas, não vale a pena viver muitos anos.
A menos que eu queira ser uma “freira feia sem Deus”, o que nada tem a ver com freiras de verdade, uso aqui apenas a imagem estereotipada que temos das freiras como seres chatos, opressores e feios , ou seja, uma pessoa limpinha, azeda e repressora.
Como diz meu filho médico de 27 anos, “nunca houve uma geração tão sem graça como esta, obcecada por viver muito”. Eu, pessoalmente, comparo esta geração de pessoas obcecadas pela saúde àqueles personagens de propaganda de pasta de dentes: com dentes branquinhos, cabelos bem penteados e com cara de bolha (ou “coxinha”, como se diz por aí).
Dei muita risada quando soube que alguns cientistas estavam relacionando câncer de boca à prática frequente de sexo oral. Será que sexo oral dá cárie também? Terá a vida sentido sem sexo oral? Fazer ou não fazer, eis a questão!
Essa ciência horrorosa da saúde total deverá logo descobrir que sexo oral faz mal, e aí, meu caro “pombinho da saúde”, como você vai fazer para viver sendo perseguido pela saúde pública? Talvez, ao final, não seja muito problema para você, porque quem é muito limpinho não deve gostar mesmo dessa sujeira que é trocar fluidos e gostos por aí.

"Neurocientista psicopata", VLADIMIR SAFATLE

James Fallon era um neurocientista norte-americano envolvido em pesquisas sobre as relações entre padrões anatômicos do cérebro de psicopatas e comportamento criminoso. Sua hipótese era a de que existiam distinções anatômicas sensíveis entre criminosos violentos e pessoas "normais". Imbuído da certeza de que a anatomia é o destino, lá foi Fallon tentar mostrar que a baixa atividade em certas áreas do lobo frontal e temporal, responsáveis pela empatia e compaixão, poderia nos auxiliar a identificar um psicopata.
Mas eis que o inimaginável ocorre. A fim de construir um quadro comparativo, o neurocientista resolveu servir-se de tomografias de si mesmo e de membros de sua própria família. Aterrorizado, Fallon descobriu que seu próprio cérebro tinha similitudes fundamentais com a anatomia cerebral dos psicopatas. Sim, ele mesmo era um psicopata potencial, um "protopsicopata".
"Eu sempre soube", disse sua mulher. Afinal, anos a fio esquecendo o dia do rodízio do carro e não se comovendo com relatos das desfortunas do câncer do seu tio-avô só podiam significar uma indiferença fria e tendencialmente psicopata. "É verdade, eu sempre fui insensível", responde o neurocientista. Mesmo suas ações de caridade, ele agora reconhece, eram feitas sem empatia e sem "real envolvimento", ou seja, sem aquela lágrima no canto dos olhos que escorre furtivamente, como Hollywood nos ensinou.
Mas havia um problema: Fallon não matou ninguém, ninguém reclamou de ter sido estuprada por ele. Por que então o protopsicopata não passou ao ato? "O amor da família me salvou. Ele conseguiu neutralizar o pior". Ao que só podemos responder: "Aleluia, aleluia".
Esta história real demonstra a inanidade especulativa primária de certos setores das neurociências. Pois o que Fallon descobriu não foi sua "protopsicopatia" nem a força redentora do amor familiar, mas a simples ausência de relações diretas entre estados cerebrais e "comportamento criminoso".
A neurologia conseguiu identificar áreas do cérebro, como o giro supramarginal, cujas atividades são fundamentais para a empatia e a compaixão. Mas se eu fosse kantiano, lembraria que a apatia e a desconfiança em relação à compaixão são condições, não apenas para a psicopatia e para o comportamento antissocial, mas para todo comportamento moral, já que a universalidade do julgamento moral exige o não envolvimento especial com sujeitos particulares determinados.
Ou seja, o mesmo estado cerebral pode estar na base de dois comportamentos sociais divergentes, o que demonstra que não há causalidade direta alguma entre estado cerebral e comportamento social. Mas admitir tal evidência deixaria muita gente sem emprego.
 

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