domingo, 24 de maio de 2015

O Positivismo Segunda Parte - 3° ano





A Lei dos Três Estados

A ideia-chave do positivismo comtiano é a Lei dos Três Estados, a qual ele chamava, inclusive, de “minha grande lei”. De acordo com a teoria comtiana, a humanidade vivenciou três estágios de concepções sobre o mundo, sendo que em cada estágio haveria a ideia de futuro enquanto progresso e, portanto, o estágio posterior seria sempre melhor e mais perfeito do que o anterior.
O conhecimento do mundo aprimorou-se ao longo do tempo, o que levou ao consequente aprimoramento das concepções sobre o mundo. A humanidade avançou de uma condição rudimentar e bárbara para uma condição civilizada de mundo, progresso este que se manifestou no aprimoramento constante dos homens e de suas visões sobre a realidade, o que explicaria, inclusive, as transformações da História.
A lógica que permeia essa teoria é a de que a humanidade, enquanto não houvesse atingido o auge de seu desenvolvimento, conheceria o mundo de forma imperfeita. Porém, essas formas imperfeitas iriam sendo substituídas por outras melhores até que a humanidade chegasse ao último estágio do conhecimento, em que as antigas superstições e os pré-conceitos tornassem-se desnecessários e obsoletos.
Os estágios da humanidade são:
1º estado – Teológico: Nesse estágio, o ser humano explica a realidade apelando para entidades sobrenaturais (os “deuses”). Busca-se, dessa forma, o absoluto e as causas primeiras e finais representadas por questões como “de onde viemos?” e “para onde vamos?”. No estágio teológico, os fenômenos são vistos como produtos da ação direta de seres sobrenaturais cuja vontade arbitrária comanda a realidade.
2º estado – Metafísico: O estágio metafísico é uma espécie de meio-termo entre o estado teológico e o positivo. No lugar dos deuses, há a presença de entidades abstratas, como essência e substância dos seres, para explicar a realidade. Permanece, no entanto, a busca por respostas às questões “de onde viemos?” e “para onde vamos?”. Procura-se, assim, o absoluto, com a diferença de que este não é mais uma divindade, mas sim conceitos abstratos como essência e ideias. Para Comte, as explicações teológica ou metafísica são ingenuamente psicológicas, possuindo importância, sobretudo histórica, como crítica e negação da explicação teológica precedente, mas não encerrando a verdade em si mesmas. Nesse segundo estágio, fala-se de natureza, de povo, etc. como conceitos abstratos e absolutos.
3º estado – Positivo: Essa é a etapa final e definitiva do conhecimento sobre o mundo, na qual não se busca mais o “porquê” das coisas, mas sim o “como” elas são. Esse conhecimento se estabelece por meio das descobertas e do estudo das leis naturais, ou seja, das relações de causa e efeito a que todas as coisas estão submetidas. Nesse estágio, que consiste no apogeu das etapas anteriores, a imaginação é excluída e prioriza-se a observação dos fenômenos concretos, encontrando-se, assim, as leis por detrás de seu funcionamento.


“É no estado positivo que o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter conhecimentos absolutos, renuncia a perguntar qual é sua origem, qual o destino do universo e quais as causas íntimas dos fenômenos para procurar somente descobrir, com o uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efetivas, isto é, suas relações invariáveis de sucessão e semelhança.”
COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva.


Para Comte, esses estágios são necessários para a evolução da humanidade e do homem, representando fases de compreensão da realidade que se sucedem rumo à perfeição do saber. Assim, sua Lei dos Três Estágios serviria para compreender o desenvolvimento do homem, o qual estaria no estado teológico em sua infância, no metafísico em sua juventude e no positivo em sua maturidade.
Segundo Comte, a época em que ele vivia já passava pelo estágio positivo e, assim, qualquer forma de conhecer a realidade que não fosse pela Ciência deveria ser extinta, já que o progresso e a construção de um mundo perfeito ocorreriam apenas como consequência do conhecimento científico.
“Estudando o desenvolvimento da inteligência humana [...] desde sua primeira manifestação até hoje, creio ter descoberto uma grande lei fundamental [...] Estalei consiste no seguinte: cada uma de nossas concepções principais e cada ramo de nossos conhecimentos passam necessariamente por três estágios teóricos diferentes: o estágio teológico ou fictício, o estágio metafísico ou abstrato e o estágio científico ou positivo [...] daí três tipos de filosofia ou de sistemas conceituais gerais sobre o conjunto dos fenômenos, que se excluem reciprocamente. O primeiro é um ponto de partida necessário da inteligência humana; o terceiro é seu estado fixo e definitivo; o segundo destina-se unicamente a servir como etapa de transição.” COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva.

A classificação das Ciências 

Comte classificou as Ciências a partir das mais gerais para as menos gerais, de acordo com a generalidade do seu objeto. Logo, segundo essa concepção, a mais geral de todas as Ciências seria a Matemática, seguida da Astronomia, da Física, da Química, da Biologia e da Sociologia, com objetos progressivamente menos gerais, e, portanto, mais complexos. Partindo dessa classificação, a Sociologia comtiana figura como a mais complexa de todas as Ciências. Para Comte, os caminhos para se alcançar o conhecimento das leis que regem a sociedade são a observação, o experimento e o método comparativo. Segundo o filósofo, para se passar de uma sociedade desordenada para uma ordenada, é necessário um conhecimento científico sobre tal sociedade e, para que esse conhecimento seja eficaz, deve-se encontrar as leis que regem os fenômenos sociais de modo que se perceba as relações de causa e efeito no interior dessa sociedade. Comte chama a Sociologia de “física social”, pois, assim como a Física encontra as leis dos fenômenos naturais e dos movimentos dos corpos, a Sociologia é capaz de encontrar as leis que regem a sociedade. Comte não menciona a Filosofia em sua classificação, uma vez que ela tem o papel de ordenadora e de instrumento de conhecimento de todas as outras Ciências.
A religião da humanidade
Em sua última grande obra, O sistema de política positiva, escrita entre os anos 1851 e 1854, Comte demonstrou sua crença de que a teoria positiva pudesse produzir uma sociedade regenerada. O aperfeiçoamento dos homens se daria por meio da Ciência e das leis sociais, as quais assumiriam o papel de religião. Porém, nessa religião positiva, não se adoraria uma divindade extraterrena, mas sim a própria humanidade. O amor a deus, portanto, presente no estágio teológico, cederia lugar, no estado positivo, ao amor à humanidade.
Para Comte, a ideia de humanidade representa todos os indivíduos que existem, existiram e que ainda irão existir, sendo um conceito que engloba mais do que apenas os indivíduos particulares. Todos os indivíduos são como células de um grande organismo, a humanidade, que deve ser venerada como eram os deuses.
Tomando como base a organização do catolicismo, como cultos, ritos, hierarquia e doutrina, Comte afirmou que a nova religião da humanidade também deveria ter dogmas, os quais consistiriam nas verdades científicas e na Filosofia Positiva. Também existiriam sacramentos, como o batismo secular, o crisma e a unção dos enfermos, e seriam construídos templos, os institutos científicos, dentre outros.


“O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim.” Augusto Comte

O positivismo no Brasil

O positivismo, enquanto movimento filosófico, espalhou-se por todo o mundo, chegando ao Brasil e ocupando lugar de destaque na política e no pensamento nacionais durante a passagem do século XIX para o XX. Dentre os mais importantes positivistas, destacam-se o Coronel Benjamin Constant, considerado o fundador da república brasileira, e os pensadores Miguel Lemos (1854-1917) e Teixeira Mendes (1855-1927). Além disso, cabe ressaltar que os governos de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto foram especialmente marcados pelas influências positivistas.
A expressão mais clara da influência do positivismo no Brasil figura na própria Bandeira Nacional, que traz a máxima política positivista “Ordem e Progresso”, originada como uma variação da citação de Comte: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”, que representa o desejo de uma sociedade justa, fraterna e progressista. Tal frase conduz ao pensamento de que a ordem das coisas, expressa no conhecimento científico a partir das relações de causa e efeito, levaria ao progresso inevitável na vida material e na sociedade, sendo esta a principal crença do positivismo.
O lema “Ordem e Progresso”, impresso na Bandeira Nacional, nasceu do pensamento positivista, segundo o qual somente pela ordem é possível alcançar o progresso.
De acordo com a perspectiva positivista, o progresso é fruto de uma atitude racional deliberada, podendo ser alcançado por meio de decisões racionais e científicas, as quais devem ser tomadas por governos competentes, constituídos de pessoas capacitadas.

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