domingo, 24 de maio de 2015

O Positivismo Primeira Parte - 3° ano



O positivismo foi um movimento filosófico do século XIX que teve como principal característica a romantização da Ciência, ou seja, a crença de que ela deveria servir como guia exclusiva da vida individual e social do homem: deveria ser, assim, o único conhecimento, a única moral, a única religião possível. Exercendo grande influência em todo o pensamento europeu, o positivismo tinha em sua essência as ideias empiristas, o que o fez ser considerado por alguns estudiosos como um desenvolvimento do empirismo. Tendo como principal representante Augusto Comte (1789-1857), o movimento positivista espalhou-se por todo o mundo ocidental e manifestou-se nas mais diversas áreas do conhecimento.

Derivado do latim positum, o termo positivismo refere-se àquilo que está posto, situado, que existe na realidade, referindo-se, portanto, a tudo o que pode ser observado e experimentado. Esse termo foi utilizado pela primeira vez por Saint-Simon (1760-1825), um dosfundadores do socialismo utópico, para designar o método exato das Ciências e sua extensão para a Filosofia, acreditando que o avanço da Ciência determinaria as mudanças políticas, sociais, morais e religiosas pelas quais a sociedade deveria passar.

Tendo em vista a definição do termo, fica clara a crítica do positivismo a qualquer filosofia metafísica, a qual buscava algo que ultrapassasse a simples aparência dos seres, ou seja, a filosofia que buscava uma essência imaterial das coisas por meio da razão. Para a filosofia positivista, só é conhecimento aquele que diz respeito ao mundo material (empírico), sendo que tudo aquilo que não se possa experimentar não existe ou não pode ser conhecido.

O positivismo desenvolveu-se plenamente em uma Europa que vivia um quadro político de paz substancial, a qual se deu logo após os movimentos revolucionários de1848, conhecidos também como A primavera dos povos, e, também, em um contexto de expansão colonial europeia na África e na Ásia. Nesse contexto social e político, a Europa vivenciava a concretização de seu desenvolvimento industrial, o que trouxe uma mudança radical no modo de ser e de viver dos homens, graças aos avanços proporcionados pelo desenvolvimento das ciências e pela produção de novas tecnologias. Tais tecnologias modificaram todo o modo de produção dentro das indústrias, trazendo como inevitável consequência o crescimento vertiginoso das cidades, que se tornaram centros urbanos cada vez mais procurados por trabalhadores em busca de novas oportunidades de emprego e renda, rompendo com o antigo equilíbrio entre cidade e campo.

A riqueza aumentou juntamente com a produção em larga escala, criando-se assim um ciclo virtuoso entre oferta e procura, pois, à medida que a produção aumentava, crescia também o número de trabalhadores assalariados, o que, consequentemente, gerava mais produção. Naquele momento, ocorreram importantes avanços científicos, como na Medicina, por exemplo, que encontrou solução para algumas das doenças infecciosas que afligiam a humanidade.

Foi nesse período também que a Revolução Industrial atingiu o auge de seu desenvolvimento, o que mudou radicalmente a vida dos homens. O entusiasmo com o progresso da humanidade, visto como algo certo e irrefreável, e com a construção de uma vida melhor e mais feliz, a qual seria proporcionada pelos avanços científicos, pode ser notado em diversos aspectos da vida humana, tendo-se em vista a crença de que todos os problemas seriam resolvidos pelo conhecimento científico aplicado na indústria e na educação.

De 1830 a 1890, os avanços dos conhecimentos nos vários campos do saber se fizeram notáveis. Na Física, os estudos de Hertz sobre o Eletromagnetismo e os de Joule e Thomson sobre a Termodinâmica foram os grandes destaques. No campo da Biologia, Pasteur desenvolveu a microbiologia. Bernard desenvolveu a Fisiologia e a medicina experimental e Darwin, sua Teoria Evolucionista. Nesse momento da História, como sinal do crescente conhecimento da Engenharia e de suas tecnologias, foram construídos a Torre Eiffel, em Paris, e o canal de Suez, ligando a Europa à Ásia, o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho.

O positivismo encontrou, assim, seus principais pontos de apoio na estabilidade política da Europa, no notável crescimento das indústrias, no desenvolvimento latente das ciências e no aparecimento de novas tecnologias. Visto como o romantismo da Ciência, o positivismo acompanhou e estimulou o surgimento e a afirmação da organização técnico-industrial da sociedade moderna, o que se expressa no otimismo que acompanhou a origem do movimento de industrialização.

Essa corrente de pensamento pode ser dividida em duas formas históricas essenciais:

1. Positivismo social: Essa forma de positivismo, representada por Saint-Simon, Augusto Comte e John Stuart Mill, surgiu da necessidade de constituir a Ciência como o fundamento de uma nova ordenação social e religiosa da sociedade.

2. Positivismo evolucionista: Essa segunda forma, representada por Spencer, ampliou o conceito de progresso do positivismo e lutou por sua imposição em todos os campos da Ciência.



Teses fundamentais do positivismo:

1. A Ciência é o único conhecimento possível e seu método é o único válido para a obtenção do conhecimento verdadeiro. Logo, a busca por causas ou princípios que não sejam acessíveis ao método científico não leva, absolutamente, ao conhecimento. A investigação metafísica, ou seja, a busca por verdades que ultrapassam a matéria, não tem nenhum valor.

2. O método da Ciência busca descrever os fatos e mostrar as relações constantes entre eles, expressando-os em leis que permitem ao homem realizar a previsão dos fatos futuros, tese defendida por Comte. No campo da evolução, Spencer afirma que as experiências permitem prever a gênese evolutiva dos fatos mais complexos a partir dos mais simples, uma vez que a lei advinda da observação e da experiência da natureza é a tradução da regularidade observada na natureza. Assim, o positivismo baseia-se na identificação das leis causais e no domínio sobre os fatos. O método descritivo pode ser aplicado tanto no estudo da natureza quanto no estudo da sociedade. Os fatos naturais, além de constituírem as relações de causa e efeito no mundo natural, também o fazem no mundo social, nas relações entre os homens, o que deixa clara a importância da Sociologia para o positivismo.  



3. O método da Ciência, por ser o único válido, deve ser estendido a todos os campos de indagação e da atividade humana, que, tanto no campo individual quanto no social, deve ser guiada por ele. O método científico é, portanto, o único capaz de possibilitar a compreensão do mundo e também a resolução de seus problemas. Por essa razão, surge a crença de que a Ciência é capaz de construir um mundo melhor, resolvendo todos os problemas humanos e sociais.



4. No momento histórico do positivismo, observou-se um otimismo crescente, já que a humanidade acreditava que o progresso era inevitável e que o caminho para a construção de um mundo melhor havia sido, enfim, encontrado. Essa nova realidade de bem-estar geral, de paz e de solidariedade deveria ser então construída pelo conhecimento científico e pelo trabalho humano.



5. Nesse período, acreditava-se que o positivismo construiria um mundo melhor e mais justo, em que todos teriam garantidas as melhores condições devida, proporcionando a plena felicidade a todos. Esse estágio de desenvolvimento humano seria inevitável e, por isso, o positivismo trazia uma visão messiânica da História, acreditando que o mundo positivista era o último .



6. O positivismo foi visto como o auge dos ideais iluministas que, rompendo com uma concepção idealista de conhecimento, valorizavam os fatos empíricos como os únicos capazes de levar ao conhecimento verdadeiro, além de valorizarem a fé na racionalidade, o poder da Ciência para resolver os problemas humanos e sociais e a cultura como criação exclusivamente humana sem a interferência da divindade.



7. De uma forma geral, o positivismo pecou pela confiança acrítica na Ciência, vista como aquela que produziria um novo mundo pelo progresso. A inevitabilidade defendida pelo positivismo era considerada inquestionável, o que fugia ao espírito da própria Filosofia.

8. O pensamento positivista levou à formulação de críticas a todo o conhecimento que não fosse real e empiricamente comprovado. Assim, ainda que o positivismo tenha caído, mais tarde, em uma concepção metafísica de igual proporção, a metafísica e qualquer concepção idealista de mundo eram combatidas como formas inferiores e antiquadas de pensamento.

9. Alguns marxistas criticaram o positivismo ao vislumbrar, nessa concepção de progresso inevitável, a concretização dos ideais burgueses e dominadores.

10. No positivismo, a Teologia e a Metafísica foram substituídas pelo culto à Ciência, considerada a única capaz de compreender o mundo. O mundo espiritual foi, assim, substituído pelo mundo humano, e as ideias de espírito ou essência foram substituídas pela ideia de matéria.


AUGUSTO COMTE 


Nascido em 19 de janeiro de 1798, em Montpellier, França, membro de uma modesta família católica, Augusto Comte ficou conhecido como o fundador da Sociologia e como o maior representante do positivismo enquanto movimento filosófico.

Apesar da educação religiosa recebida, afastou-se da fé católica aos 14 anos de idade, ingressando, em 1814, na Escola Politécnica de Paris (École Polytechnique), a qual exerceu forte influência sobre seu pensamento. Retornou em seguida à sua cidade natal, onde estudou Medicina por pouco tempo. Em 1817, retornou a Paris, passando a sobreviver de seu trabalho como professor particular de Matemática e escrevendo para alguns jornais.

Aqueles foram tempos tortuosos para Comte, que passava por necessidades financeiras, tendo de recorrer constantemente ao dinheiro enviado pela mãe para sobreviver. Durante certo tempo, foi secretário de um banqueiro na cidade e, de 1818 a 1824, tornou-se secretário do socialista utópico Conde de Saint-Simon, sobre o qual teceu duras críticas mais tarde. Em 2 de abril de 1826, iniciou seu curso público de Filosofia Positiva. Abandonado pela mulher, sofreu sérias perturbações mentais, suspendendo o curso de Filosofia, o qual retomou somente em 1829, tendo mantido-o até 1842, período de publicação da redação do curso.

Em 1844, começou seu envolvimento amoroso com Clodilde de Vaux, que faleceu no ano seguinte, vítima de tuberculose. Com a morte da amada, Comte vivenciou maus momentos, o que influenciou fortemente para que seu pensamento se tornasse uma espécie de misticismo, com a consequente fundação da religião da humanidade em 1852. Comte faleceu em 5 de setembro de 1857, em Paris, possivelmente acometido de câncer. Sua última casa, situada à Rua Monsieur-le-Prince, nº 10, em Paris, foi posteriormente adquirida por alguns positivistas e transformada no Museu Casa de Augusto Comte.

Obras

Planos de trabalhos científicos para reorganizar a sociedade, 1822.

Curso de filosofia positiva, sua obra-prima, publicado em seis volumes, escrito de 1830 a 1842.

Discurso sobre o espírito positivo, 1844.

Discurso sobre o conjunto do positivismo, 1948, reunindo, no 4º volume, seis opúsculos editados de 1819 a 1828.

Sistema de política positiva, instituindo a religião da humanidade, em quatro volumes, escritos de 1851 a 1854.

Catecismo positivista ou sumária exposição da religião da humanidade, 1852.

Síntese subjetiva ou sistema universal de concepções próprias ao estado normal da humanidade, 1856.
Além dessas obras, há três outras publicadas postumamente.

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