O positivismo
foi um movimento filosófico do século XIX que teve como principal
característica a romantização da Ciência, ou seja, a crença de que ela deveria
servir como guia exclusiva da vida individual e social do homem: deveria ser,
assim, o único conhecimento, a única moral, a única religião possível.
Exercendo grande influência em todo o pensamento europeu, o positivismo tinha
em sua essência as ideias empiristas, o que o fez ser considerado por alguns
estudiosos como um desenvolvimento do empirismo. Tendo como principal
representante Augusto Comte (1789-1857), o movimento positivista espalhou-se
por todo o mundo ocidental e manifestou-se nas mais diversas áreas
do conhecimento.
Derivado do
latim positum, o termo positivismo refere-se àquilo que está posto,
situado, que existe na realidade, referindo-se, portanto, a tudo o que pode ser
observado e experimentado. Esse termo foi utilizado pela primeira vez por
Saint-Simon (1760-1825), um dosfundadores do socialismo utópico, para designar
o método exato das Ciências e sua extensão para a Filosofia, acreditando que o
avanço da Ciência determinaria as mudanças políticas, sociais, morais e religiosas
pelas quais a sociedade deveria passar.
Tendo em vista
a definição do termo, fica clara a crítica do positivismo a qualquer filosofia
metafísica, a qual buscava algo que ultrapassasse a simples aparência
dos seres, ou seja, a filosofia que buscava uma essência imaterial
das coisas por meio da razão. Para a filosofia positivista, só é conhecimento
aquele que diz respeito ao mundo material (empírico), sendo que tudo aquilo que
não se possa experimentar não existe ou não pode ser conhecido.
O positivismo
desenvolveu-se plenamente em uma Europa que vivia um quadro político de paz
substancial, a qual se deu logo após os movimentos revolucionários de1848,
conhecidos também como A primavera dos povos, e, também, em um contexto de
expansão colonial europeia na África e na Ásia. Nesse contexto social e
político, a Europa vivenciava a concretização de seu desenvolvimento
industrial, o que trouxe uma mudança radical no modo de ser e de viver dos
homens, graças aos avanços proporcionados pelo desenvolvimento das ciências e
pela produção de novas tecnologias. Tais tecnologias modificaram todo o modo de
produção dentro das indústrias, trazendo como inevitável consequência o
crescimento vertiginoso das cidades, que se tornaram centros urbanos cada vez
mais procurados por trabalhadores em busca de novas oportunidades de emprego e
renda, rompendo com o antigo equilíbrio entre cidade e campo.
A riqueza
aumentou juntamente com a produção em larga escala, criando-se assim um ciclo
virtuoso entre oferta e procura, pois, à medida que a produção aumentava,
crescia também o número de trabalhadores assalariados, o que, consequentemente,
gerava mais produção. Naquele momento, ocorreram importantes avanços
científicos, como na Medicina, por exemplo, que encontrou solução para algumas
das doenças infecciosas que afligiam a humanidade.
Foi nesse
período também que a Revolução Industrial atingiu o auge de seu
desenvolvimento, o que mudou radicalmente a vida dos homens. O entusiasmo com o
progresso da humanidade, visto como algo certo e irrefreável, e com a
construção de uma vida melhor e mais feliz, a qual seria proporcionada pelos
avanços científicos, pode ser notado em diversos aspectos da vida humana,
tendo-se em vista a crença de que todos os problemas seriam resolvidos pelo
conhecimento científico aplicado na indústria e na educação.
De 1830 a 1890, os avanços dos
conhecimentos nos vários campos do saber se fizeram notáveis. Na Física, os estudos
de Hertz sobre o Eletromagnetismo e os de Joule e Thomson sobre a Termodinâmica
foram os grandes destaques. No campo da Biologia, Pasteur desenvolveu a microbiologia.
Bernard desenvolveu a Fisiologia e a medicina experimental e Darwin, sua
Teoria Evolucionista. Nesse momento da História, como sinal do crescente
conhecimento da Engenharia e de suas tecnologias, foram construídos a Torre
Eiffel, em Paris, e o canal de Suez, ligando a Europa à Ásia, o Mar
Mediterrâneo ao Mar Vermelho.
O positivismo
encontrou, assim, seus principais pontos de apoio na estabilidade política da
Europa, no notável crescimento das indústrias, no desenvolvimento latente das
ciências e no aparecimento de novas tecnologias. Visto como o romantismo da
Ciência, o positivismo acompanhou e estimulou o surgimento e a afirmação da
organização técnico-industrial da sociedade moderna, o que se expressa no
otimismo que acompanhou a origem do movimento de industrialização.
Essa corrente
de pensamento pode ser dividida em duas formas históricas essenciais:
1. Positivismo
social: Essa forma de positivismo, representada por Saint-Simon, Augusto
Comte e John Stuart Mill, surgiu da necessidade de constituir a Ciência como o
fundamento de uma nova ordenação social e religiosa da sociedade.
2. Positivismo
evolucionista: Essa segunda forma, representada por Spencer, ampliou o
conceito de progresso do positivismo e lutou por sua imposição em todos os
campos da Ciência.
Teses fundamentais do positivismo:
1. A Ciência é o único conhecimento
possível e seu método é o único válido para a obtenção do conhecimento
verdadeiro. Logo, a busca por causas ou princípios que não sejam acessíveis ao
método científico não leva, absolutamente, ao conhecimento. A investigação
metafísica, ou seja, a busca por verdades que ultrapassam a matéria, não tem
nenhum valor.
2. O método da
Ciência busca descrever os fatos e mostrar as relações constantes entre eles,
expressando-os em leis que permitem ao homem realizar a previsão dos fatos
futuros, tese defendida por Comte. No campo da evolução, Spencer afirma que as
experiências permitem prever a gênese evolutiva dos fatos mais complexos a
partir dos mais simples, uma vez que a lei advinda da observação e da
experiência da natureza é a tradução da regularidade observada na natureza.
Assim, o positivismo baseia-se na identificação das leis causais e no domínio
sobre os fatos. O método descritivo pode ser aplicado tanto no estudo da
natureza quanto no estudo da sociedade. Os fatos naturais, além de
constituírem as relações de causa e efeito no mundo natural, também o fazem no
mundo social, nas relações entre os homens, o que deixa clara a importância da
Sociologia para o positivismo.
3. O método da
Ciência, por ser o único válido, deve ser estendido a todos os campos de
indagação e da atividade humana, que, tanto no campo individual quanto no
social, deve ser guiada por ele. O método científico é, portanto, o único capaz
de possibilitar a compreensão do mundo e também a resolução de seus problemas.
Por essa razão, surge a crença de que a Ciência é capaz de construir um mundo
melhor, resolvendo todos os problemas humanos e sociais.
4. No momento
histórico do positivismo, observou-se um otimismo crescente, já que a
humanidade acreditava que o progresso era inevitável e que o caminho para a
construção de um mundo melhor havia sido, enfim, encontrado. Essa nova
realidade de bem-estar geral, de paz e de solidariedade deveria ser então
construída pelo conhecimento científico e pelo trabalho humano.
5. Nesse período,
acreditava-se que o positivismo construiria um mundo melhor e mais justo, em
que todos teriam garantidas as melhores condições devida, proporcionando a
plena felicidade a todos. Esse estágio de desenvolvimento humano seria
inevitável e, por isso, o positivismo trazia uma visão messiânica
da História, acreditando que o mundo positivista era o último .
6. O positivismo
foi visto como o auge dos ideais iluministas que, rompendo com uma concepção
idealista de conhecimento, valorizavam os fatos empíricos como os únicos
capazes de levar ao conhecimento verdadeiro, além de valorizarem a fé na
racionalidade, o poder da Ciência para resolver os problemas humanos e sociais
e a cultura como criação exclusivamente humana sem a interferência da
divindade.
7. De uma forma
geral, o positivismo pecou pela confiança acrítica na Ciência, vista como
aquela que produziria um novo mundo pelo progresso. A inevitabilidade defendida
pelo positivismo era considerada inquestionável, o que fugia ao espírito da própria
Filosofia.
8. O pensamento
positivista levou à formulação de críticas a todo o conhecimento que não fosse
real e empiricamente comprovado. Assim, ainda que o positivismo tenha caído,
mais tarde, em uma concepção metafísica de igual proporção, a metafísica e
qualquer concepção idealista de mundo eram combatidas como formas inferiores e
antiquadas de pensamento.
9. Alguns
marxistas criticaram o positivismo ao vislumbrar, nessa concepção de progresso
inevitável, a concretização dos ideais burgueses e dominadores.
10. No
positivismo, a Teologia e a Metafísica foram substituídas pelo culto à Ciência,
considerada a única capaz de compreender o mundo. O mundo espiritual foi,
assim, substituído pelo mundo humano, e as ideias de espírito ou essência foram
substituídas pela ideia de matéria.
AUGUSTO COMTE
Nascido em 19
de janeiro de 1798, em Montpellier, França, membro de uma modesta família
católica, Augusto Comte ficou conhecido como o fundador da Sociologia e como o
maior representante do positivismo enquanto movimento filosófico.
Apesar da
educação religiosa recebida, afastou-se da fé católica aos 14 anos de
idade, ingressando, em 1814, na Escola Politécnica de Paris (École
Polytechnique), a qual exerceu forte influência sobre seu pensamento. Retornou
em seguida à sua cidade natal, onde estudou Medicina por pouco tempo. Em 1817,
retornou a Paris, passando a sobreviver de seu trabalho como professor
particular de Matemática e escrevendo para alguns jornais.
Aqueles foram
tempos tortuosos para Comte, que passava por necessidades financeiras, tendo de
recorrer constantemente ao dinheiro enviado pela mãe para sobreviver. Durante
certo tempo, foi secretário de um banqueiro na cidade e, de 1818 a 1824, tornou-se
secretário do socialista utópico Conde de Saint-Simon, sobre o qual teceu duras
críticas mais tarde. Em 2 de abril de 1826, iniciou seu curso público de
Filosofia Positiva. Abandonado pela mulher, sofreu sérias perturbações mentais,
suspendendo o curso de Filosofia, o qual retomou somente em 1829, tendo
mantido-o até 1842, período de publicação da redação do curso.
Em 1844,
começou seu envolvimento amoroso com Clodilde de Vaux, que faleceu no ano
seguinte, vítima de tuberculose. Com a morte da amada, Comte vivenciou
maus momentos, o que influenciou fortemente para que seu pensamento se tornasse
uma espécie de misticismo, com a consequente fundação da religião da
humanidade em 1852. Comte faleceu em 5 de setembro de 1857, em Paris,
possivelmente acometido de câncer. Sua última casa, situada à Rua
Monsieur-le-Prince, nº 10, em Paris, foi posteriormente adquirida por alguns
positivistas e transformada no Museu Casa de Augusto Comte.
Obras
• Planos de
trabalhos científicos para reorganizar a sociedade, 1822.
• Curso de
filosofia positiva, sua obra-prima, publicado em seis volumes, escrito de 1830 a 1842.
• Discurso
sobre o espírito positivo, 1844.
• Discurso
sobre o conjunto do positivismo, 1948, reunindo, no 4º volume, seis
opúsculos editados de 1819 a 1828.
• Sistema
de política positiva, instituindo a religião da humanidade, em quatro
volumes, escritos de 1851 a 1854.
• Catecismo
positivista ou sumária exposição da religião da humanidade, 1852.
• Síntese
subjetiva ou sistema universal de concepções próprias ao estado normal da
humanidade, 1856.
Além dessas obras, há
três outras publicadas postumamente.
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