A
pergunta sobre o que é a filosofia e para o que serve é inevitável
sempre que nos confrontamos pela primeira vez com este pensamento que
nos causa estranheza e fascínio. Na verdade, esta pergunta é tão antiga
quanto o próprio surgimento da filosofia, mas claramente não possui
resposta única. Se olharmos para os vinte e cinco séculos da tradição
filosófica ocidental, vemos a filosofia definida de diferentes formas,
algumas até conflitantes: a filosofia pode ser uma visão de mundo, uma
forma de autoconhecimento, um método de questionamento, um sistema de
saberes. Os pré-socráticos, Sócrates, os sofistas, Platão e Aristóteles
conceberam a filosofia de maneiras distintas reivindicando cada um para
si a autêntica filosofia.
Sexto
Empírico, filósofo cético dos séculos II - III, foi um dos pensadores
que formulou essa questão de modo mais contundente. Diz ele que em toda
investigação temos três resultados possíveis: acreditamos ter encontrado
a resposta, acreditamos ser impossível encontrar a resposta,
continuamos buscando. No primeiro caso, nos tornamos dogmáticos e a
investigação cessa; no segundo caso, somos também dogmáticos, ainda que
em um sentido negativo, e a investigação igualmente cessa; só no
terceiro caso, segundo Sexto, temos a autêntica filosofia, aquela que
continua a investigar, para a qual a busca é mais importante que a
resposta.
De
certo modo, a filosofia moderna incorporou a posição cética,
considerando que nenhuma teoria, nenhum sistema, nenhum tipo de saber
podem pretender ser conclusivos, podem querer ter a palavra final sobre o
que quer que seja. A contribuição da filosofia tem sido portanto, desde
o seu nascimento na Grécia antiga, a interrogação, o questionamento, a
pergunta. Para a filosofia, não há nada que não possa ser posto em questão. Deve
ser possível discutir tudo. E é o caráter inconclusivo das respostas
que nos convida a retomar as questões, a repensá-las, a procurar nossas
próprias respostas, fatalmente também inconclusivas.
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