domingo, 24 de outubro de 2010

Freud no Mundo de Sofia 5

- Compreendo.

-Segundo Freud, a nossa vida quotidiana apresenta numerosos exemplos de ações inconscientes. Acontece freqüentemente esquecermos o nome de uma pessoa, remexermos na roupa enquanto falamos ou mudarmos o lugar dos objetos, aparentemente por acaso, na sala. Além disso, podemos tropeçar nas palavras e enganarmo-nos a falar, ações que poderiam parecer totalmente incautas. Mas, para Freud, os lapsos nem sempre são tão casuais nem tão inocentes como acreditamos, devem ser vistos como sintomas. Atos falhados deste tipo ou "ações casuais" podem revelar os segredos mais íntimos.

- A partir de agora vou refletir bem antes de dizer uma palavra.

- Mas não conseguirás fugir aos teus impulsos inconscientes. A arte reside em não nos esforçarmos em empurrar demasiadas coisas desagradáveis para o inconsciente. É o mesmo que querermos tapar o buraco de uma toupeira. Podemos consegui-lo, mas também podemos ter a certeza de que a toupeira aparecerá numa outra parte do jardim. O mais saudável é deixar entreaberta a porta entre consciente e inconsciente.

- Se fechamos a porta podemos ter distúrbios psíquicos?

-Sim, um neurótico é justamente uma pessoa que despende demasiada energia para afastar da consciência aquilo que é desagradável.

Freqüentemente, são experiências particulares que esta pessoa quer recalcar: Freud chamou-lhes “traumas”. A palavra é grega e significa "ferida".

- Compreendi.

-Na cura do paciente, foi importante para Freud tentar abrir com cautela esta porta fechada, ou talvez abrir uma nova. Com a colaboração do paciente tentava trazer à luz as experiências recalcadas. O paciente não tem consciência daquilo que recalca, mas pode desejar que o médico (ou "analista" como se diz na psicanálise) o ajude a encontrar os traumas escondidos.

- Como procede o psicanalista?

- Freud chamou-lhe a técnica da “associação livre”.

Fazia o paciente deitar-se descontraído e deixava-o falar sobre o que lhe vinha à cabeça nesse momento, independentemente de poder parecer insignificante, casual, desagradável ou embaraçoso. O analista parte do princípio de que, naquilo que o paciente associa no divã, estão sempre contidas referências aos seus traumas e às resistências que impedem que eles se tornem conscientes. É que os pacientes preocupam-se com os seus traumas sempre - mas não conscientemente.

- Quanto mais nos esforçamos por esquecer alguma coisa, mais pensamos inconscientemente nisso?

- Exato. Por isso é importante tomar atenção aos sinais que provêm do inconsciente. O caminho certo para penetrar no inconsciente reside, segundo Freud, nos sonhos.

Um dos seus livros mais importantes foi de fato “A Interpretação dos Sonhos”, publicado em 1900. Nessa obra ele afirmou que aquilo que sonhamos não é casual: através dos sonhos os pensamentos inconscientes tornam-se manifestos à consciência.

- Continua!

- Depois de muitos anos de experiência com os pacientes, e depois de ter analisado os seus próprios sonhos, Freud afirmou que todos os sonhos são a “satisfação” de um desejo. Podemos observar isto nas crianças, afirmou. Sonham com gelados e cerejas. Mas, nos adultos, os desejos que o sonho quer realizar são freqüentemente camuflados, porque, mesmo quando dormimos, há uma censura relativamente àquilo que podemos ou não podemos fazer. Mesmo se durante o sono essa censura, ou mecanismo de recalcamento, está enfraquecida em relação ao nosso estado de vigília, é suficientemente forte para deformar os desejos que não queremos reconhecer.

-É por isso que os sonhos têm de ser interpretados?

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